Arguidos tinham sistema diário de recolha de dinheiro vivo e remessa para a China. Três detidos em preventiva.
Corpo do artigo
A Polícia Judiciária do Porto desmantelou, nos últimos dias, um esquema organizado de branqueamento de capitais, enraizado, na Varziela, em Vila do Conde, conhecida como “Chinatown”. Quatro pessoas suspeitas de recolher diariamente sacos de dinheiro junto de empresários da zona para os canalizar para a China foram detidas, numa operação que permitiu a apreensão de cerca de 1,5 milhões de euros, em notas.
No total, a organização movimentou cerca de 50 milhões de euros que desapareceram da economia portuguesa e, só no último ano, a PJ detetou pelo menos seis milhões de euros depositados nas contas bancárias do grupo.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, o esquema começou em 2019. Diversos empresários da “Chinatown”, que não declaravam parte dos seus lucros ao Fisco, procuraram os serviços do grupo. De carro, a organização fazia recolhas diárias do dinheiro vivo que era depois depositado em inúmeras contas bancárias, abertas, ao longo dos últimos anos, em nome de testas de ferro ou de empresas de fachada.
Para a constituição de sociedade e abertura de contas, o grupo recorria a documentos falsificados ou pagava aos testas de ferro para poder utilizar as suas identidades.
Pelo que apurámos, a investigação, tutelada pelo Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) Regional do Porto, detetou cinco dezenas de firmas, utilizadas como sociedade ecrã. Nessas contas, eram depositadas pequenas quantias de cada vez para evitar atrair a atenção de dos serviços de “compliance” (prevenção de branqueamento) dos bancos. Através de transferências internacionais, os rendimentos não declarados dos empresários eram canalizados para a China. Em troca do serviço de recolha e branqueamento, a organização cobrava uma percentagem do dinheiro que lhe passava pela mão.
Na manhã desta quinta-feira, o inspetor chefe Pedro David, da secção de investigação de fraudes fiscais e crimes de branqueamento, disse, numa conferência de imprensa na PJ, que o grupo dedicava-se em exclusivo a prestar um serviço de branqueamento e de evasão fiscal.
"É um fenómeno que já existia, mas que se tem agravado nos últimos anos. Procuravam ser discretos. Mantinham saldos reduzidos nas contas bancárias, que eram abandonadas ao fim de cinco ou seis meses. Os clientes seriam empresários grossistas da zona da Varziela, mas não pomos de parte que esta organização trabalhasse com outros tipos de atividades ilícitas. Ainda vamos investigar", disse o inspetor chefe com funções de coordenação.
Na operação, que começou na segunda-feira e envolveu buscas em residências e empresas, foram apreendidos cerca de 1,5 milhões de euros, muitas vezes guardados em simples sacos de plástico.
Os quatros arguidos foram levados ao Tribunal de Instrução Criminal do Porto e três deles ficaram em prisão preventiva.