Megaoperação no distrito de Beja permitiu deter 35 pessoas. Estrangeiros angariariam trabalhadores e portugueses dariam apoio na sua exploração.
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Cerca de 60 imigrantes africanos, asiáticos e europeus explorados na agricultura no Baixo Alentejo foram resgatados, esta quarta-feira de madrugada, numa megaoperação da Polícia Judiciária (PJ), nos concelhos de Serpa, Beja, Cuba e Ferreira do Alentejo.
Trinta e cinco pessoas foram detidas e transferidas para Lisboa, onde começam amanhã, quinta-feira, a ser apresentas a tribunal, para aplicação das medidas de coação. Têm entre 22 e 58 anos e são suspeitas de associação criminosa, tráfico de pessoas, branqueamento de capitais e falsificação de documentos.
Em comunicado, a PJ refere que os imigrantes foram, "na sua maioria, aliciados nos seus países de origem", nomeadamente Roménia, Moldávia, Índia, Senegal, Paquistão, Marrocos e a Argélia. Entre os detidos, estão, apurou o JN, alguns cidadãos destes países e pelo menos cinco portugueses.
Os estrangeiros angariariam os trabalhadores, enquanto a maioria dos cidadãos nacionais atuaria como elo de ligação com um grupo empresarial da região, lucrando com a colocação dos imigrantes em explorações agrícolas. Entre os portugueses detidos, está ainda uma solicitadora com escritório em Cuba, de 32 anos, que seria a responsável por criar "empresas-fantasma" e elaborar documentação falsa, incluindo contratos.
Vítimas subnutridas
Ainda segundo informações recolhidas pelo JN, os imigrantes recebiam um ordenado, bastante baixo, no qual tinha já sido debitado o preço do alojamento e do transporte, disponibilizados pela rede criminosa. Em alguns casos, era também cobrado um montante pela viagem até Portugal.
As vítimas trabalhavam de manhã à noite e saíam tão cedo para o campo que, para garantir que as encontrava em casa, a PJ decidiu dar início à megaoperação pelas 4.30 horas e não pelas 7 horas, como é habitual.
O estado de subnutrição e desidratação dos imigrantes era tão evidente que dois marroquinos de 18 e 28 anos e um argelino de 27, residentes em Faro do Alentejo (Cuba), foram transportados ao Hospital de Beja. O trio está em situação irregular no país e será repatriado.
De acordo com fonte da Segurança Social, os homens não serão os únicos nessa situação e, por isso, "não está ainda quantificado" quantas das vítimas resgatados serão realojadas.
No total, participaram nas buscas a 65 locais cerca de 400 elementos da PJ. Aquela que é a maior ação de sempre contra o tráfico de pessoas na agricultura contou ainda com a Autoridade para as Condições no Trabalho, o Alto Comissariado para as Migrações e a Proteção Civil de Beja.
PORMENORES
Carros, dinheiro e armas
A PJ apreendeu aos suspeitos oito carros, incluindo um BMW, e quatro motociclos, quatro armas e quantias em dinheiro bastante avultadas. A operação foi acompanhada no terreno pelo juiz Carlos Alexandre, do Tribunal Central de Instrução Criminal de Lisboa.
Base operacional de campanha
Uma tenda, três contentores, duas casas de banho e uma unidade móvel deram forma a uma base operacional de campanha da PJ, no estacionamento do Parque da Cidade, na entrada norte de Beja.
Denúncias alertaram
O inquérito, titulado pelo Ministério Público de Lisboa, foi aberto no início do ano, após denúncias. Dada a rotatividade de imigrantes nas explorações agrícolas e a sazonalidade dos trabalhos, é provável que, nessa altura, as vítimas fossem outras e não as que foram resgatadas, esta quarta-feira, pelas autoridades.