Luís Macias Nieto, importante narcotraficante colombiano que estava em fuga às autoridades portuguesas desde 2014, foi capturado na Colômbia e já está numa cadeia de Lisboa.
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Conhecido como “El Doctor” e hoje com 78 anos, havia sido condenado, pelo Tribunal de Almada, a 11 anos de prisão, mas fugiu para Espanha na sequência dos recursos que fizeram esgotar o prazo de prisão preventiva e permitiram a sua saída da prisão de alta segurança de Monsanto.
Com um mandado de detenção internacional pendente por crimes cometidos nos Estados Unidos da América, Luís Macias Nieto seria, posteriormente, detido no país vizinho e extraditado para a América, onde esteve preso até 2020. Novamente em liberdade, regressou à Colômbia, mas voltaria a ser detido em maio de 2022, no âmbito de um pedido das autoridades portuguesas para que cumprisse a pena a que tinha sido condenado.
Com “El Doctor” atrás das grades, o processo de extradição arrastou-se e só na quinta-feira é que inspetores da Polícia Judiciária tiveram autorização para embarcarem num avião que os levaria à Colômbia e trazer o fugitivo para Portugal. Todos chegaram anteontem ao Aeroporto Humberto Delgado e Nieto foi imediatamente encarcerado numa cadeia de Lisboa.
O Gabinete Nacional da Interpol, com sede em Lisboa, considerou a extradição de “El Doctor” “uma decisão histórica” por se tratar de umas das primeiras vezes em que a Colômbia permite que um dos seus cidadãos cumpra pena noutro país. Nas redes sociais, este organismo destaca, ainda, “os instrumentos de cooperação internacional, nomeadamente o Projeto Interpol/El pacto para fugitivos” que levaram à detenção do fugitivo.
Recursos, atrás de recursos
A detenção do narcotraficante colombiano ocorreu na Costa da Caparica, em julho de 2012, numa operação conjunta da Interpol, DEA e Polícia Judiciária. Estas entidades tinham apurado que Luís Macias Nieto e Edil Sua Luna, seu braço direito, transportaram cerca de 340 quilos de cocaína da Colômbia para Portugal para vendida no mercado europeu. A droga foi guardada num barracão abandonado na zona de Casal Frade, concelho de Sesimbra, à espera de ser recolhida por Alejandro Bedmar, Joaquin Torcuate e Joaquin Martos, espanhóis contratados por Nieto.
No entanto, os fardos estiveram sempre sob vigilância e, em 31 de julho de 2012, inspetores da Polícia Judiciária intercetaram duas viaturas, na Costa de Caparica, onde seguiam todos os traficantes. Num dos automóveis estavam 234 quilos de cocaína e na busca ao barracão na margem Sul do Tejo foram encontrados os restantes 107 quilos.
“El Doctor” e os comparsas foram julgados no Tribunal de Almada e, em janeiro de 2014, todos foram condenados a prisão efetiva. Luís Macias Nieto apanhou 11 anos de cadeia, pena que o Tribunal da Relação de Lisboa, num acórdão em que o relator foi o juiz Rui Rangel, confirmaria.
“Tivemos pouca sorte com o juiz que apanhámos”, referiu, ontem, Carlos Melo Alves.
Ao JN, o advogado de “El Doctor” recorda que os recursos à condenação salientavam a ação de um agente infiltrado da DEA no cartel do colombiano que, na visão da defesa, atuou como agente provocador do crime, ferindo de morte a legalidade da investigação.
Por duas vezes, o Supremo Tribunal de Justiça acolheu esta posição e anulou a condenação, mas, à terceira, confirmou a pena aplicada ao narcotraficante. Porém, nesta altura, Luís Macias Neto já tinha sido libertado, e fugido, tendo permanecido menos de dois anos atrás das grades.