Polícia acusado de matar Odair Moniz pede desculpa, acreditou que estava a ser ameaçado

Julgamento teve início no Tribunal de Sintra
Foto: Nuno Pinto Fernandes / Arquivo
O agente da PSP acusado do homicídio de Odair Moniz pediu desculpa, esta quarta-feira, no início do julgamento, aos familiares e amigos do cidadão cabo-verdiano, morto a tiro em 21 de outubro de 2024 na Cova da Moura, Amadora.
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"Gostaria de pedir desculpa à família e aos amigos, acredito que não seja fácil para ninguém", afirmou comovido Bruno Pinto, de 28 anos, no Tribunal Central Criminal de Sintra.
O polícia acrescentou não concordar com os factos descritos na acusação do Ministério Público e pretender, ao longo do dia, apresentar a sua versão dos acontecimentos.
Acreditou que estava a ser ameaçado com faca
"Se eu não fosse questionado tantas vezes sobre a faca, para mim não haveria qualquer dúvida", afirmou Bruno Pinto em declaração ao tribunal. Embora a acusação do Ministério Público não refira qualquer ameaça com uma faca por parte de Odair Moniz, o arguido insistiu que viu uma lâmina na zona da cintura do cidadão cabo-verdiano.
Segundo o agente da PSP, o incidente aconteceu depois de, na sequência de uma perseguição policial para o interior da Cova da Moura que culminou no despiste do carro que Odair Moniz conduzia, este ter agredido com murros e pontapés e ameaçado de morte Bruno Pinto e um outro polícia.
Os dois agentes teriam igualmente tentado rasteirar o cidadão cabo-verdiano e atingi-lo à bastonada, para conseguir detê-lo e impedir que este se aproximasse de um grupo de pessoas percecionado pelo arguido como uma ameaça. Nesta altura, já tinham sido igualmente disparados dois tiros para o ar que, no seu entender, não tinham surtido efeito.
"Quando vejo uma lâmina, quando vejo a faca na mão, eu aí recuo de imediato, e disparo para uma zona inferior [do corpo], abaixo da cintura", contou Bruno Pinto, cujos dois disparos atingiram as zonas do tórax e da virilha da vítima.
Num registo tranquilo e ocasionalmente emocionado, relatou que o segundo disparo foi feito por ter acreditado que falhara o alvo no primeiro e não cessara a ameaça.
Reiterando que a 21 de outubro de 2024 pensou ter disparado das duas vezes da "cintura para baixo", o arguido alegou que, na altura, optou pela sua vida e do colega.
Questionado pelo procurador do Ministério Público se considera proporcional que uma infração rodoviária tenha culminado no uso da arma de serviço, Bruno Pinto insistiu que se tratou da resposta a uma ameaça. "[A faca] seria para usar contra mim ou contra o meu colega. Foi por isso que efetuei os disparos, não foi por uma infração rodoviária, não foi por um acidente", retorquiu, assegurando que não desejou a morte de Odair Moniz.
A acusação descreve que Odair Moniz, de 43 anos e residente no Bairro do Zambujal (Amadora), foi atingindo com dois projéteis - um primeiro na zona do tórax, disparado a entre 20 e 50 centímetros de distância; e um segundo na zona da virilha, disparado a entre 75 centímetros e um metro de distância.
Segundo o despacho, datado de 29 de janeiro de 2025, o incidente aconteceu depois de o cidadão ter tentado fugir à PSP e resistido à detenção, não se tendo verificado qualquer ameaça com recurso a arma branca.
Bruno Pinto incorre numa pena de oito a 16 anos de prisão.
