Redes estrangeiras são responsáveis por "parte importante" dos furtos, mas especialização policial e cooperação internacional diminuíram o seu conforto.
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Os carteiristas que circulam pela Europa à boleia dos fluxos turísticos já são autores de uma "parte importante" dos furtos do género em Portugal. Mas a atuação, em cooperação com outros países, de uma equipa policial criada há quatro anos em Lisboa para combater o fenómeno, está a deixar estes grupos "menos confortáveis" em mandar os seus operacionais para território nacional.
A garantia é dada pela PSP, que, no primeiro semestre deste ano, registou 2318 furtos por carteiristas, mais de 75% dos quais nos distritos de Lisboa (1176) e do Porto (604). Dados que apontam para que, a manter-se a tendência, o número de crimes seja, no final de 2022, superior aos verificados em 2020 e 2021 - marcados por fortes restrições na circulação entre Estados -, mas inferior ao de 2019, último ano pré-pandemia de covid-19, em que foram contabilizados 8228 ataques de carteiristas.
Para o comandante da esquadra da PSP a que está afeta a equipa especializada em grupos itinerantes, Nélson Silva, para já é "difícil perceber" se tal "tem que ver com o trabalho de investigação ou com a pandemia": "Estas redes estão a habituar-se às rotinas, só para o ano é que conseguimos ver se [o número de ataques] reduziu", justifica, ao JN, o comissário, mas assegurando que, atualmente, Portugal já não é visto pelas redes em causa como um "país muito seguro" para atuarem.
Aposta na investigação
O ponto de viragem ocorreu com a criação da equipa especializada, altura em que o foco passou da detenção em flagrante delito de um carteirista - que implicava, quase sempre, a sua libertação pelo tribunal - para uma aposta na descoberta de ligações entre operacionais e a imputação aos suspeitos de mais do que um furto.
"Já são apresentados [ao juiz] com outro grau de culpa", explica.
O trabalho permitiu à equipa deter, entre junho de 2018 e 31 de dezembro de 2021, 392 pessoas, das quais 57 ficaram em prisão preventiva.
Para os resultados, tem sido fundamental a troca de informações, "tendencialmente via Europol", com outros países, em particular Espanha, onde muitas das redes "têm células instituídas", e França, onde, tal como no país vizinho, as características do fenómeno são similares às nacionais.
"Se o problema for visto de forma isolada em cada país, não me parece que [o combate] tenha taxa de sucesso", defende Nélson Silva, alertando que, agora, começam a surgir modos de atuação mais elaborados, com furtos, nomeadamente, em hotéis e veículos.
Os tradicionais carteiristas portugueses continuam ativos, nalguns casos "quase que numa adição", mas, segundo apurou o JN, os grupos organizados são originários de países da Europa de leste, dos Balcãs e do Magrebe.
Os métodos mais usados
Se o problema for visto de forma isolada em cada país, não me parece que [o combate aos carteiristas] tenham taxa de sucesso
Numa resposta por escrito, a PSP esclarece que, no presente, são sobretudo três os métodos usados por carteiristas: a criação de distrações para, sem que a vítima se aperceba, lhe subtraírem os pertences; o aproveitamento da proximidade em transportes públicos lotados; e a vigilância de pessoas que levantam dinheiro no multibanco para perceberem qual é o seu código e, em seguida, irem às compras com o cartão que lhes irão tirar sem estas darem conta.
As vítimas são, na sua maioria, turistas estrangeiros, passageiros de transportes públicos, incluindo portugueses, com malas ou mochilas, e qualquer pessoa que utilize uma caixa ATM.
A apresentação imediata de uma denúncia é a melhor hipótese de se conseguir recuperar os pertences.
Visita do Papa vai atrair mais criminosos
Os carteiristas estão entre os grupos de criminosos europeus que a PSP espera que, em agosto de 2023, se fixem em Portugal para aproveitar a presença de 1,4 milhões de peregrinos em Lisboa e Fátima, durante a visita do Papa Francisco ao país, no âmbito da Jornada Mundial da Juventude. A um ano de distância, a PSP já está a preparar-se. Esta semana foi a Santiago de Compostela observar a dinâmica de eventos semelhantes. Vai ainda recorrer a apoio da Interpol, Europol e polícias de Espanha, França e Itália.
Recomendações
Não baixar a guarda
Os carteiristas aproveitam a descontração de quem está em férias para atacar. Por isso, o melhor é manter-se atento aos seus pertences, sobretudo em locais com muitas pessoas.
Guardar documento
Deixar um documento e algum dinheiro no quarto do hotel - ou mesmo no cofre - é uma forma de garantir que, em caso de furto da carteira, tem sempre forma de regressar a casa.
Em Portugal e lá fora
Atuando os carteiristas dentro e fora de território nacional, as recomendações aplicam-se tanto em férias em Portugal como em estadias no estrangeiro.