As forças de segurança exigem punição severa para discurso de ódio a agentes e militares. A PSP criou uma equipa para identificar mensagens na Internet.
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"Vamos queimar a casa deles ou então vamos descobrir onde é que um, dois ou três deles [polícias] moram, esperar na porta e balázio na cabeça. Mas temos de nos organizar". O apelo surgiu, na semana passada, logo após os últimos confrontos entre a PSP e os moradores da Quinta do Mocho, em Loures, num vídeo publicado nas redes sociais. As imagens estão a ser investigadas pela PSP, que criou uma equipa especial para identificar os autores de ameaças a polícias na Internet. Contudo, os representantes dos agentes e militares exigem mais, nomeadamente punições severas para quem incitar ao ódio contra polícias. À semelhança do que a Inspeção-Geral da Administração Interna impôs, no início deste mês, para os membros da GNR, PSP e SEF. Até porque algumas ameaças deram origem a emboscadas contra forças de segurança em bairros.
O vídeo que incentiva à violência terá sido publicado nas redes sociais, apurou o JN, por um morador da Quinta do Mocho considerado "agressivo, hostil e perigoso". Também é visto como uma personalidade com grande influência naquela comunidade e está já sob a alçada das autoridades. "O vídeo é conhecido, está em investigação e será comunicado à autoridade judiciária", confirmou ao JN fonte da PSP. "Quando estiver calmo e passarem um ou dois polícias sozinhos, vocês partem o carro todo, tiram-nos de lá de dentro e espanquem os gajos", é outra das frases que sustenta a investigação da PSP.
A Associação Profissionais da Guarda (APG/GNR) exige uma posição de força do Ministério Público (MP) e dos tribunais relativamente a vídeos que atentam contra a vida e a dignidade das forças de segurança. "A APG/GNR entende que a promoção do ódio contra as polícias tem vindo a intensificar-se nos discursos de alguns populares, seja nas redes sociais, seja presencialmente, sendo um facto o aumento das ofensas, agressões e crimes praticados contra polícias", justifica.
Armadilhas em bairros
Para a associação de César Nogueira, "o MP e os tribunais devem agir contra este tipo de comportamento, em nome da paz pública, designadamente no sentido de punir os seus responsáveis, transmitindo a mensagem de que no nosso país o incitamento ao ódio é crime". A APG/GNR "reclama, de igual forma, a tomada pública de posição por parte do Governo perante semelhantes mensagens". "A sua obrigação primeira é defender a Lei Fundamental do país", frisa.
Segundo Peixoto Rodrigues, presidente do Sindicato Unificado da Polícia (SUP), os "polícias sentem-se indignados com as ameaças" e temem que o pior possa acontecer. "Nota-se que são montadas armadilhas para atrair polícias aos bairros e atacá-los. Aconteceu isso na última intervenção na Quinta do Mocho", revela. O sindicalista defende que, no atual contexto, os agentes não podem ignorar as ameaças e têm de "estar com a atenção redobrada". "Esperemos que o MP atue", pede.
Os ataques a polícias foram discutidos numa reunião que, nesta semana, juntou sindicatos e o diretor da PSP. Magina da Silva revelou, então, a existência de uma equipa para identificar quem, virtualmente, ameaça agentes da PSP.
Discurso de agentes nas redes sociais fiscalizado
No início deste mês, a Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI) anunciou, durante a apresentação do plano de prevenção de manifestações de discriminação nas forças e serviços de segurança, que os polícias que escrevam comentários de natureza racista, xenófoba ou qualquer outro tipo de discriminação nas redes sociais vão passar a ser mais fiscalizados e sancionados.
"As redes sociais são hoje a praça pública. Não podemos aceitar que um polícia que jurou defender o Estado de direito e que representa a autoridade do Estado, que quando veste a farda promova a defesa desses valores, designadamente o princípio da igualdade, e quando dispa a farda possa tecer comentários de natureza racista, xenófoba ou outra qualquer forma discriminatória nas redes sociais", justificou, na ocasião, a inspetora-geral da IGAI, Anabela Cabral Ferreira.
Agora, a APG/GNR exige o mesmo tratamento para os autores das ameaças e insultos feitos aos polícias.
Onda de insultos em sites de jornais sem punição
Primeiro, foi a morte de dois militares da GNR que estavam no interior de um carro-patrulha abalroado na autoestrada (A1). Depois, o incêndio num abrigo ilegal de Santo Tirso que matou 73 animais. As notícias destes dois acontecimentos foram comentadas por milhares de pessoas nas edições online dos meios de comunicação nacionais. E muito do que foi escrito nas caixas de comentários dos jornais atentava contra a dignidade dos polícias.
Perante as críticas aos militares, o Comando-Geral da GNR veio a público explicar as razões para impedir a entrada dos populares no canil em chamas. Mas nem esse esclarecimento travou a onda de ameaças e insultos aos guardas.
"O cerne desta questão é a facilidade com este tipo de conteúdos nas redes sociais, dirigidos às forças de segurança, se tornou moda, sabendo-se de antemão que sairão impunes, mesmo que injuriem, mesmo que ameacem, mesmo que seja claro que se tratam de crimes", critica a APG/GNR.