Advogado do pirata dos e-mails afirma que cliente está a ser útil em investigações de crime financeiro.
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As autoridades nacionais não foram contactadas pela justiça francesa ou suíça a propósito do pirata informático Rui Pinto, que foi alvo de um mandado de detenção europeu (MDE) executado na Hungria, a pedido de Portugal, na última quarta-feira. Após a detenção do suspeito em Budapeste, a sua defesa opôs-se à extradição para Portugal e sugeriu que esta possibilidade poria em causa a colaboração que o pirata informático vem dando em investigações abertas por força de revelações do Football Leaks.
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Na sexta-feira, o JN perguntou à Procuradoria-Geral da República se o Ministério Público sabia, antes de emitir o MDE, que Rui Pinto estava a colaborar com a justiça francesa e se preparava para fazer o mesmo com a suíça, conforme dissera o advogado William Bourdon. Até ontem à noite, a Procuradoria não deu resposta, mas o JN apurou que o Ministério Público luso e a Polícia Judiciária não só nunca receberam qualquer contacto da parte de França e Suíça, como interpretaram com reserva as palavras de William Bourdon, um advogado que outrora apareceu a defender o ex-analista da NSA, Edward Snowden.
Rui Pinto estará de facto a colaborar em investigações de crime financeiro abertas em França após o Football Leaks? Na afirmativa, de que forma e com que estatuto? E porque é que a justiça francesa nunca contactou antes Portugal, sendo facto público e notório que Rui Pinto era aqui investigado por crimes de tentativa de extorsão, entre outros, e podia ser detido a qualquer momento?
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Aquelas são algumas das questões que se põem e que ainda não têm uma resposta clara. Uma coisa, porém, a defesa de Rui Pinto deixou já claro: vai lutar para que o seu cliente seja tratado como um "whistleblower", considerando que "cumpre todos os critérios de proteção dos denunciantes, resultantes das últimas disposições da legislação europeia e de muitos países europeus".
Os advogados de Rui Pinto assumiram a participação do seu cliente no Football Leaks e lembraram que "muitas revelações feitas ao abrigo destas partilhas de informação" deram lugar a "muitas investigações em França e noutros países europeus". De resto, a defesa também fez constar que a França poderia opor-se à entrega de Rui Pinto a Portugal, intervindo no processo de extradição que está pendente e será decidido num tribunal húngaro no prazo de dois meses.
Mandado europeu para o caso Doyen e suspeito nos e-mails
O mandado de detenção europeu foi emitido pelo Ministério Público português com base em suspeitas de crime que se restringem ao Doyen Investment Sports, um fundo que financia passes de jogadores e treinadores de futebol e se queixou de Rui Pinto. O MP fez saber que o pirata é suspeito de crimes de acesso ilegítimo, violação de segredo, ofensa a pessoa coletiva e tentativa de extorsão. Mas, tal como o JN tem referido, o pirata continua, no entanto, a ser investigado também pelos ataques piratas ao sistema informático do Benfica e a outros clubes e instituições, em Portugal e no estrangeiro.
"Mercado de Benfica"
As autoridades acreditam que o blogue "Mercado de Benfica" é administrado por Rui Pinto. Desde que o alegado hacker foi detido não houve novas divulgações.
Processo nos EUA
Num processo nos Estados Unidos da América, o Benfica tenta responsabilizar os autores dos blogues que têm divulgado e-mails, mas não conseguiu ainda localizar ou notificar os seus autores ou as plataformas que os alojam.
Football Leaks
Rui Pinto é apontado como um dos principais fornecedores de informação no Football Leaks, responsável pela divulgação de esquemas de evasão fiscal envolvendo clubes e jogadores de futebol, incluindo Cristiano Ronaldo.