Marinha abre guerra às redes. Cartéis usam tecnologia de ponta para traficar mais haxixe na costa algarvia.
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Os traficantes de drogas portugueses estão a juntar-se a espanhóis e marroquinos em grupos cada vez mais violentos, com grande poder económico e que não temem atacar as polícias. A garantia é dada pelo chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA) e da Autoridade Marítima Nacional (AMN), almirante Gouveia e Melo, que abriu uma guerra sem quartel às redes que, para levar haxixe de Marrocos para o Algarve, usam lanchas "voadoras" equipadas com tecnologia que deteta radares e ouve as comunicações das autoridades.
Quando viram o barco da Polícia Marítima aproximar-se, os narcotraficantes dirigiram a sua lancha a toda a velocidade contra a dos polícias. O embate foi violento e fez com que dois agentes caíssem logo ao mar. Outros dois sofreram ferimentos.
O episódio aconteceu no início de fevereiro, no Algarve, e Gouveia e Melo não perdoou. "Não foi um fenómeno isolado e é uma prova de que estes grupos estão dispostos a um nível de violência superior. Já aconteceu com uma embarcação da GNR, no rio Guadiana, e com outra roubada também à GNR. Isso é intolerável", justifica.
Com o apoio da Força Aérea e da Polícia Judiciária, Marinha e AMN avançaram com uma "atividade permanente na costa portuguesa, com muito mais acuidade na zona Sul". "Não sei se conseguiremos quebrar o tráfico completamente, mas uma forte irrupção vamos conseguir fazer", promete o CEMA.
Os resultados alcançados em pouco tempo dão esperança. Só este ano, foram apreendidas 12 embarcações de alta velocidade, que transportavam 577 fardos com mais de 20 toneladas de haxixe". Foram detidos 27 traficantes, mais do que em todo o ano passado.
Lanchas de meio milhão
Num passado recente, explica o líder da Marinha, o tráfico de haxixe na Península Ibérica estava a cargo de "grupos associados a gangues marroquinos e espanhóis, muito ligados à Galiza". Neste momento, estes cartéis "começam a ter a participação de gangues portugueses". "Isto é preocupante", salienta.
"Muito bem organizadas", estas redes partem de Marrocos e recorrem a "lanchas robustas, com motores de última geração e com equipamentos de navegação" para chegar à costa portuguesa e, daqui, levar a droga, por terra, até ao Norte e Centro da Europa. "Cada lancha custará para cima de meio milhão de euros e estão a tornar-se mais sofisticadas, com capacidades até de intercetar comunicações e perceberem se nós estamos ou não junto a elas".
A tecnologia de ponta não é a única arma destes cartéis. Usam "três tipos de lanchas" para diferentes funções. As mais rápidas, "fazem o transporte", outras "levam muitos bidões de gasolina para reabastecer as que levam a droga" e as restantes "são lebres, utilizadas para desviar a atenção das autoridades para que o desembarque se possa fazer numa outra praia", descreve.
Negócio
Criminosos com tecnologia de ponta
O poderio económico dos narcotraficantes permite-lhes adquirir a mais recente tecnologia. "Há suspeitas, apesar de nunca termos apanhado alguma, de que há lanchas com capacidade de guerra eletrónica para detetar radares que estejam a controlar a área onde navegam", alerta o CEMA. Há também redes a usar "lanchas submersíveis" para traficar cocaína desde a América do Sul. Uma delas foi apanhada, com a ajuda da Marinha, na Galiza.
Meios
Vigilância aérea
O combate ao narcotráfico no mar é feito com o apoio da Força Aérea, através do avião de transporte e vigilância C295 e do P3C, uma aeronave com radares e outra tecnologia de ponta.
Controlo marítimo
A Marinha também recorre a meios próprios, nomeadamente um helicóptero MK95, uma corveta, duas lanchas costeiras e seis embarcações rápidas.
Especialistas
Para abordar lanchas "voadoras" e outras embarcações, a Marinha conta com o Grupo de Ações Táticas da Polícia Marítima e equipas de fuzileiros. Ao todo, são 50 elementos.