Produtores pedem medidas para travar o fenómeno e mais fiscalização de vendedores e intermediários. Um quarto da produção nacional pilhada e escoada no circuito legal. Associação fala de "crime organizado".
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As associações de produtores estimam em cerca de 25% da produção nacional a quantidade de pinhas furtadas todos os anos. Em 2020, os prejuízos rondaram os 22 milhões de euros. As pinhas chegam à indústria que irá extrair o "ouro branco" do interior da semente do pinheiro-manso através dos mesmos intermediários que para ali encaminham as compradas legalmente. Um problema cuja dimensão, para a UNAC - União da Floresta Mediterrânica, que junta associações de produtores, industriais e investigadores, "assume contornos de crime organizado".
Apesar da baixa de produção prevista de novo para esta temporada, que teve início a 1 de dezembro e acaba em março do próximo ano (fora deste período a apanha de pinhas é proibida), o pinhão de Portugal é o de melhor qualidade e nesta época das festas natalícias pode atingir preços a rondar os 140 euros por quilo no consumidor (o triplo de variedades mais pobres de outros países). Por isso, a procura é grande e os preços sobem, o que também atrai os ladrões. O fenómeno dos furtos não é de agora e tem-se agravado desde meados da primeira década deste século. Tal como os protestos dos produtores.
Mesmo assim, na campanha 2020/21 foram apanhadas cerca de 12 mil toneladas de pinhas, longe das 90 a 120 mil toneladas de um ano normal.
Fiscalização ineficaz
Ao JN, a UNAC, responsável pelo Centro de Competências do Pinheiro Manso e do Pinhão, revela que só "no litoral acima de Setúbal 50% da pinha é roubada". António Ferreira, da Associação de Produtores Florestais de Coruche, considera "alvos apetecíveis" zonas de "pequena propriedade e casas de veraneio e antigos empreendimentos imobiliários onde não há vigilância".
A União propõe "ajustes na legislação e na fiscalização", porque as obrigações legais implementadas em 2015 se tornaram "ineficazes pela falta de fiscalização" sobre os transportes e as quantidades transacionadas. Mais: "o sistema de registo de operadores económicos até vem providenciar e dar cobertura ao mercado informal". António Ferreira concorda: "As autoridades, nomeadamente o SEPNA, da GNR, não têm meios para fiscalizar".
Coimas mais graves e criação de sistemas de alerta e de cruzamento de informação para controlar o circuito das pinhas são outras propostas da UNAC, sem as quais "a pinha roubada é introduzida no mercado pelos intermediários que operam no mercado paralelo e que ficam com toda a mais-valia, à custa do prejuízo do produtor e da sociedade, uma vez que não cumprem as obrigações fiscais, e da exploração da mão de obra que utilizam"