Presidente do Instituto do Desporto tentou bloquear investigação a claque do Benfica
Judiciária fez buscas no Estádio da Luz e no Instituto Português do Desporto e da Juventude por causa dos processos sobre apoio ilegal a claques.
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O Ministério Público (MP) está a investigar suspeitas de favorecimento do Benfica por parte do atual presidente do Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ), Vítor Pataco. Na segunda-feira, a Polícia Judiciária fez uma busca no IPDJ e outra no Estádio da Luz a fim de esclarecer a atuação do clube encarnado e do próprio Vítor Pataco, ex-diretor-geral da Benfica Multimédia S.A., em processos de contraordenação sobre o apoio a claques benfiquistas não legalizadas.
As suspeitas sobre o Benfica e Vítor Pataco apontam para eventual corrupção e surgiram no verão de 2018 pela voz do anterior presidente do IPDJ, Augusto Baganha, quando este foi exonerado do cargo, a um ano do final do mandato, pelo secretário de Estado do Desporto e da Juventude, João Paulo Rebelo. Na altura, Baganha revelou até alegadas pressões daquele governante sobre Pataco, seu sucessor, para favorecer o Benfica em processos de contraordenação no IPDJ sobre o apoio do Benfica às claques No Name Boys e Diabos Vermelhos.
As pressões foram desmentidas pelos visados, sendo que Baganha também acusou Vítor Pataco, que tinha sido seu vice-presidente, de ter retido, durante dez meses, um processo sobre o apoio reiterado do clube encarnado às claques não legalizadas. "Tive de avocar esse processo para ele ficar resolvido", declarou publicamente Baganha, dias depois de dois factos praticamente coincidentes: a sua exoneração e a condenação do Benfica a um jogo à porta fechada e a pagamento de uma coima de 56 250 euros, a maior aplicada até então.
Segundo apurou o JN, esta mesma história está agora a ser analisada, do ponto de vista criminal, pelo MP, em mais um capítulo do inquérito em que já foram juntos os casos dos e-mails do Benfica e do Mala Ciao, relacionados com corrupção desportiva. Na segunda-feira, uma equipa da PJ apreendeu a documentação relativa aos referidos processos de contraordenação, tanto no Estádio da Luz como no IPDJ.
O Benfica manifestou-se então disponível para colaborar com as autoridades. Vítor Pataco, contactado ontem pelo JN, disse que não é arguido e manifestou-se "absolutamente tranquilo" com a situação. "Na verdade, fico satisfeito por investigarem, para que a verdade venha ao de cima, também por essa via", acrescentou, contando que apresentou uma queixa-crime contra Augusto Baganha, por difamação, e espera que, também aqui, se demonstre que não favoreceu o Benfica.
Pataco nega favores
Invocando a pendência deste processo, Pataco disse que não podia esclarecer, concretamente, a sua atuação nos processos de contraordenação do Benfica. De qualquer modo, asseverou que não fez favores, tal como "nunca" foi aliciado ou sofreu pressões do clube liderado por Filipe Vieira. Recorde-se que o mero ato de oferecer ou pedir um favor ou uma contrapartida, mesmo que não correspondido, constitui crime de corrupção.
Apesar de tudo, Vítor Pataco admitiu que o facto de ter sido diretor-geral da sociedade Benfica Multimédia fragilize a sua posição, mas recordou as suas ligações passadas a outros emblemas para se defender: "O facto de ter estado na Benfica Multimédia nada belisca a minha idoneidade, como não beliscou o facto de ter sido treinador de [atletismo] no Sporting e no Belenenses", afirmou.
O presidente do IPDJ sucedeu no cargo a Augusto Baganha, de quem foi vice-presidente até 2018. Docente a tempo parcial na Universidade Autónoma de Lisboa, Vítor Pataco é licenciado em Educação Física, com pós-graduação em Gestão do Desporto e mestre em Marketing, foi diretor do Complexo Desportivo do Jamor e coordenador do Centro de Alto Rendimento do Jamor. Do seu currículo faz parte também o cargo de diretor-geral da Benfica Multimédia, SA.
Um dos alvos das buscas levadas a cabo pela Polícia Judiciária foi o empresário César Boaventura. A Judiciária esteve na sua casa, em Fão, Esposende, no âmbito do inquérito que junta os processo "e-mails do Benfica" e "Mala Ciao".
A operação policial de anteontem também compreendeu buscas na SAD do Sporting. O clube está a ser investigado por suspeitas de branqueamento de capitais, entre 2011 e 2014, nas presidências de Godinho Lopes e de Bruno de Carvalho. A PJ analisa a origem do capital investido pela Holdimo, uma sociedade do empresário angolano Álvaro Sobrinho.