Três anos após fogo em associação de Tondela que matou 11 pessoas Ministério Público ainda não acusou, mas espera fazê-lo "em breve".
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Jorge Coimbra, presidente da Associação Cultural, Recreativa e Humanitária (ACRH) de Vila Nova da Rainha, Tondela, é o único arguido no caso do incêndio ocorrido faz hoje três anos na sede da coletividade, a 13 de janeiro de 2018, podendo vir a ser responsabilizado pela morte de 11 pessoas e ferimentos em mais 38.
O dirigente foi constituído arguido pelo Ministério Público de Tondela, em fevereiro de 2019. "Não prestei declarações", confirmou ao JN Jorge Coimbra, que aguarda o desenrolar do processo com termo de identidade e residência.
Ana Paula Barreto, advogada da ACRH, afirma não ter informação sobre os crimes imputados ao único arguido do processo. Hoje, três anos após a tragédia, o Ministério Público ainda não encerrou o inquérito, com acusação ou arquivamento. "Está a aguardar a junção de elementos clínicos das vítimas para a emissão do despacho e encerramento do inquérito, o que deverá estar para breve", adiantou ao JN fonte oficial do Tribunal de Viseu ligada ao processo.
Incêndio e explosão
Na noite de sábado 13 de janeiro, 70 pessoas participavam num torneio de sueca, no primeiro piso do edifício da associação, quando deflagrou um incêndio, alegadamente originado por uma salamandra. Segundo relatos da altura, alguém alertou para as chamas no teto, junto à salamandra. Os participantes começaram a sair, mas deu-se uma explosão. O teto desabou, o quadro elétrico explodiu e, sem luz, alguém tropeçou nas escadas e os outros caíram, uns em cima dos outros, bloqueando as duas portas que poderiam ter sido a salvação.
Na altura, o presidente da CRCH assegurou ao JN que existia uma chapa entre a conduta em inox da salamandra e o teto falso que foi instalado, depois, na sede. Não havia extintores.
Pelas 11 mortes, Jorge Coimbra poderá vir a ser indiciado por homicídio por negligência. Mas Ana Paula Barreto defende que não existiu qualquer ato criminoso por parte de Jorge Coimbra ou outro elemento da Associação. "Foi um acidente imprevisível e que deixou todos perturbados, mas estou convicta de que não existe matéria criminal", acrescentou a advogada.
Sem o processo encerrado, Jorge Coimbra admitiu ao JN que a tragédia o consome. "Continuo a acordar durante a noite", lamentou o dirigente, que anseia pelo fim do processo criminal que decorre no Tribunal de Viseu. "Nunca vou esquecer, mas espero poder ficar mais tranquilo", afirmou.
Após o incêndio, a Câmara de Tondela vistoriou 103 sedes de associações e detetou falhas em 71. Para que fossem corrigidas, o Município disponibilizou 400 mil euros, através da assinatura de protocolos. "As intervenções foram feitas e vistoriadas, mas para o processo ser concluído é necessário fazer simulacros com os bombeiros, o que, devido à pandemia, não foi ainda possível", explicou a Câmara Municipal.