Andava fugido à justiça desde 2002 e era um dos foragidos mais procurados pelas autoridades. Tinha 16 anos de prisão para cumprir por homicídio qualificado, por ter torturado até à morte um jovem de 17 anos, seu empregado, que tinha um relacionamento com a sua filha menor.
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Considerado "muito perigoso" e com um cadastro por outros crimes como sequestro, tráfico de droga e lenocínio, Hélder Manuel Gonçalves Costa, 58 anos, foi detido sexta-feira pela GNR, por mero acaso, e já está na cadeia.
Hélder chegou anteontem à noite, de táxi, a Vila Verde, vindo da Galiza, Espanha, onde residia e onde sempre teve ligações, para ficar na casa da filha. Conhecido como "Hélder de Fafe", por ali residir desde pequeno (nasceu em Angola), sofre de doença cancerígena em estado adiantado e terá sido por essa razão que voltou a Portugal.
Ao chegar, comentou que vinha "morrer em casa", soube o JN. Os acontecimentos que levaram à sua detenção começaram a encadear-se por volta das nove horas da manhã. Hélder queixou-se de "dores e falta de ar" à família, que ligou para o 112. Foi enviada para o local uma ambulância dos Bombeiros Sapadores de Braga.
A equipa dos bombeiros deitou-o numa maca, mas estranhou que não tivesse um bilhete de identidade para apresentar. E duvidou dos dados de identificação fornecidos. Perante a insistência dos bombeiros, um familiar admitiu que Hélder "era procurado pela justiça por um crime grave". A GNR foi informada e solicitou que o conduzissem ao posto de Vila Verde.
Mandado Europeu pendente
Já nas instalações da GNR, os militares vieram a apurar a real identidade do doente, que era procurado por mandado de detenção europeu, desde 2002, ano em que fugiu da cadeia de Coimbra. Segundo informou a GNR ontem em comunicado, terá beneficiado de uma saída precária e não regressou.
O homicídio aconteceu em Arcos de Valdevez, em agosto de 1999, numa casa de prostituição que Hélder geria nos arredores da vila, em Rio de Moinhos, para onde a vítima foi levada depois de ter sido sequestrada e onde acabaria por ser morta. A sentença só transitou em julgado em 2003.
No posto da GNR, o fugitivo contou que estava "muito doente e debilitado" e que até ali vivera escondido no país vizinho, visitando, esporadicamente, amigos em Portugal, "mas não em Vila Verde". Disse ainda que tinha um telemóvel de uma operadora espanhola, mas que o deixara na casa da filha. Há vários anos que não tinha bilhete de identidade, nem outros documentos portugueses válidos.
O detido, depois de confirmada a sua identidade, foi conduzido ao Estabelecimento Prisional de Braga. O Tribunal de Braga vai, agora, decidir qual a prisão onde vai cumprir a pena.
Um pequeno império no mundo da prostituição
Hélder Manuel Gonçalves Costa, 58 anos, conhecido como "Hélder de Fafe", tem a sua vida ligada ao crime desde há mais de 30 anos. Foi detido pela primeira vez em 1989, pela Polícia Judiciária do Porto, com oito quilos de haxixe e outras drogas. Além do tráfico, seria condenado por crimes de extorsão, associação criminosa, tráfico de pessoas para a prostituição e posse de arma proibida.
Na altura, já tinha um pequeno império, com vários bares de alterne, nas zonas de Guimarães, Fafe e Arcos de Valdevez, entre outras, e era tido como extremamente violento.
Saído da cadeia após cumprir parte da pena, tornou-se notícia rapidamente, logo em 1999 (ver recortes em baixo). Em agosto cometeu um crime de extrema violência, ao torturar até à morte um jovem de 17 anos, que trabalhava para si como porteiro, por acreditar que ele tinha violado a sua filha, de 14 anos. As torturas duraram 24 horas e incluíram queimaduras com água a ferver e bastonadas nos testículos.
Hélder, o filho e outro porteiro seriam condenados em 2000 e o caso transitou em julgado em 2003. Um ano antes, porém, Hélder fugiu da cadeia de Coimbra. Esteve escondido até ontem e já voltou à cadeia.
Casa fechada
Ontem, a casa da família em Vila Verde estava fechada. Como que de luto. Os vizinhos de nada se aperceberam, nem sabiam do macabro assassínio que Hélder Costa protagonizara há 20 anos.
Casas de alterne
Vivendo na marginalidade desde jovem, foi no alterne e na prostituição que ganhou fortuna. Geriu várias casas do ramo na Região Norte, até ser preso.
Referenciado na PJ
Tinha ficha policial por tráfico de estupefacientes desde os anos 1990. A equipa da PJ de Braga que investigou o crime ficou arrepiada com os requintes de malvadez.