Eram namorados no Brasil e, em 2022, decidiram buscar melhor futuro em Portugal. Aqui, a jovem pôs fim à relação e arranjou outro namorado. O rejeitado não gostou e atacou-a à facada. Esta quarta-feira no tribunal de S. João Novo, no Porto, o alegado homicida acabou a declarar que “foi ela” quem tentou matá-lo.
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Gleibson Silva, 32 anos, está acusado de homicídio qualificado, na forma tentada, da ex-namorada e está em prisão preventiva desde o ano passado. Em Tribunal, contou versão bem diversa, no que ao crime concerne, da apurada pelo Ministério Público.
Diz a acusação que o individuo tentou matar a ex-namorada, em plena via pública, no centro do Porto, porque ela o rejeitou. Falhado o intento, com a ajuda de populares que testemunharam o crime, o alegado homicida autoinfligiu-se algumas facadas, facto que parece agora aproveitar para desmentir a acusação.
Vamos aos factos: em finais de 2022, o casal brasileiro chegou ao Porto. Encontraram residência em Rio Tinto, começaram a trabalhar e, quando tudo parecia correr de feição, a mulher, de 23 anos, decidiu pôr cobro à relação, e rumou a Braga onde, tempos depois, arranjaria novo namorado. Mas o antigo, o arguido Gleibson, não aceitou. A trabalhar num lar, o homem procurou consolo noutras bandas, mas, segundo a mulher que com ele privou nesse período, continuava obcecado pela ex-namorada.
Depois de procurar, na internet, a pena aplicada em Portugal aos homicidas, Gleibson foi ao hospital de Santo António queixando-se de problemas psíquicos. Foi medicado e saiu, comprometendo-se a ir ao Hospital de S. João onde avaliariam um eventual internamento.
Nessa noite ligou à ex-namorada, explicando que ia ser internado e perguntando se ela poderia vir ao Porto “apenas” pra ficar com o seu automóvel, durante o internamento. “Para não ficar na rua”, enfatizou.
A mulher acreditou e veio no dia seguinte ao Porto. Ele disse-lhe onde a esperava, nas imediações do Hospital de Santo António, tendo-se encontrado na rua que conduz às traseiras do Palácio de Justiça do Porto.
O alegado homicida tinha tudo preparado. Ocupou o lugar do passageiro, a vítima entrou para o volante, colocou o cinto e perguntou: “para onde queres ir?”. Gleibson, que deixara o telemóvel com o gravador ligado, terá imediatamente sacado de uma navalha e, aos gritos de “estragaste a minha vida, agora vou dar cabo da tua”, tentou atingi-la no pescoço e no peito.
A jovem, tal como o arguido também corpulenta, ao mesmo tempo que gritava por socorro, defendeu-se o melhor que pode, impedindo-o de lhe desferir golpes fatais. Seria socorrida por passantes, designadamente um fiscal de trânsito, e retirada do carro, ficando deitada no chão, onde foi socorrida e conduzida ao hospital
O suspeito não teve outro remédio a não ser tentar sair do local. Andou pouco. Terá pensado no que acabara de fazer e golpeou-se a si próprio, incluindo no pescoço. Seria encontrado pela PSP, caído. Foi conduzido ao hospital.
Identificado pela vítima, quando teve alta, uns dias depois, foi detido pela Polícia Judiciária e apresentado a um juiz que o colocou em prisão preventiva.
O julgamento continua em junho.