Jovens reclusos da chamada "prisão-escola" de Leiria têm acesso a telemóveis com Internet. Guardas prisionais criam identidades falsas de mulheres nas redes sociais para vigiar quem acede à Internet.
Corpo do artigo
Têm entre 16 e 21 anos e estão presos numa cadeia especial para jovens em Leiria. Mas, apesar da classificação de segurança alta, com grau de complexidade elevada deste estabelecimento prisional (EP), há reclusos que mantêm ativas páginas de Facebook, na Internet, onde desafiam as autoridades, colocando fotografias de grupo tiradas com telemóveis e exibindo o que aparenta serem cigarros com droga. Para apanhar os infratores, os guardas prisionais criam perfis com falsas identidades.
Tal como aconteceu noutras cadeias, a introdução de telemóveis com acesso à Internet é uma realidade na chamada "prisão-escola" de Leiria, criada para que reclusos com menos de 21 anos possam "obter um tratamento diferenciado, privilegiando uma ação educativa intensa e afastada dos delinquentes mais velhos", segundo informação do Ministério da Justiça.
Porém, as ilegalidades e os vícios das cadeias de adultos parecem ser os mesmos desta "prisão-escola".
"Normalmente, os reclusos conseguem que os telemóveis e droga entrem através das visitas, porque os meios humanos são muito reduzidos para a revista. Os castigos aqui [EP para jovens de Leiria] são quase nulos e os que existem são apenas de separação. O recluso fica fechado na sua cela mas, como está no pavilhão, continua a ter acesso ao que quiser porque podem passar coisas pelas folgas das portas", confidenciou ao JN fonte prisional.
As fotos que o JN encontrou em páginas do Facebook terão sido publicadas há meses, mas várias fontes confirmaram ao JN que os perfis de reclusos continuam ativos.
Perfis fechados
"Eles têm acesso aos telemóveis, tal como têm os adultos mas, com as recentes divulgações de vídeos na Internet e as apreensões que se seguiram, estão a ter mais cuidado. Não têm os perfis públicos [abertos para quaisquer utilizadores] e vão criando novas páginas para poder comunicar com o exterior e entre eles", adiantou ao JN outra fonte.
10900458
10580248
Para detetar os jovens com telemóveis e páginas ativas, os guardas prisionais têm criado falsos perfis nas redes sociais, onde passam por outras pessoas. Geralmente, é sob identidade de mulheres que conseguem a amizade virtual dos reclusos e assim logram identificá-los. "A maioria dos telemóveis apreendidos resulta de perfis falsos criados pelos guardas", revelou uma das fontes.
Contactado pelo JN, Jorge Alves, presidente do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional, adiantou ao JN ter recentemente havido um incidente na "prisão-escola".
"Um guarda foi agredido quando tentava apreender um telemóvel a um jovem recluso. O que falta naquele EP é o que falta em todas as cadeias: segurança e meios humanos. Chega a haver apenas um guarda para 50 ou 70 reclusos. Também há falta de castigos adequados. Os jovens sabem que podem violar as regras porque não existem celas disciplinares", disse o sindicalista.
Novo Modelo
Contactada pelo JN, a Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais "reconhece que o modelo legal está ultrapassado, até porque os aparelhos de telecomunicações móveis atingiram dimensões de tal forma minúsculas que a sua deteção se torna muito difícil".
"Este ano avançar-se-á com um projeto-piloto no sentido acima descrito, assumindo-se a necessidade de alterar o paradigma vigente", informa a Direção-Geral.
PORMENORES
5415 buscas
A Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais realizou perto de seis mil buscas nas cadeias em 2018.
1934 telemóveis
As buscas às celas, ao longo do ano passado, permitiram a apreensão de 1934 telemóveis.
147 seringas
Em 2018, os guardas prisionais apreenderam 147 seringas. No ano anterior tinham sido 61.
OUTROS CASOS
Paços de Ferreira - Festa em direto da cadeia
Dois vídeos, divulgados com poucos dias de intervalo, mostraram dezenas de reclusos a festejar. Um era a festa de aniversário de um homem condenado por tráfico de droga. Num outro vídeo via-se dois reclusos a fumar droga.
Vale dos Judeus - Faca e ameaças de morte em vídeo
Vídeo gravado na prisão de Vale de Judeus e publicado nas redes sociais mostrou dois reclusos a exibir uma faca e a fazer ameaças de morte a uma pessoa em liberdade.
Paços de Ferreira - Preservativos entopem esgotos
A rede de saneamento da cadeia de Paços de Ferreira ficou entupida com contracetivos e outros objetos, tendo sido necessária a contratação de uma empresa para resolver o problema. A área afetada localiza-se nos pavilhões pré-fabricados com quartos para as visitas íntimas.
Custóias - Drone com telemóveis
De madrugada, os guardas prisionais aperceberam-se de que um drone estava a sobrevoar o pátio da cadeia de Custóias. Carregava um saco de plástico, preso com um cordel, contendo telemóveis. Os guardas vigiaram à distância o aparelho e conseguiram identificar dois reclusos que estavam à sua espera, na janela da cela.