Sentença inédita por doping custa prisão efetiva a patrão e diretor da W52-F.C. Porto

Adriano Quintanilha, dono da equipa W52, condenado com pena efetiva
Foto: Igor Martins
Equipa de ciclismo dominou modalidade à custa de plano criminoso de Adriano Quintanilha e Nuno Ribeiro.
Adriano Quintanilha, o antigo patrão da W52-F.C. Porto, e Nuno Ribeiro, que era diretor desportivo da equipa de ciclismo, foram condenados esta sexta-feira a penas de prisão efetiva, de quatro anos e nove meses, por recurso à dopagem de ciclistas, entre 2020 e 2022.
A leitura do inédito acórdão do Tribunal de Penafiel decorreu, por questões logísticas, no pavilhão anexo ao Estabelecimento Prisional de Paços de Ferreira, onde, no último ano e meio, 26 arguidos responderam por crimes de tráfico de substâncias e métodos proibidos no seio da equipa W52-F. C. Porto.
Para o coletivo de juízes, presidido por Pedro Vaz, ficaram provadas as altas responsabilidades do patrão da equipa, do então diretor desportivo e ainda do contabilista da equipa, Hugo Veloso, no esquema de doping na equipa que, durante vários anos, dominou as principais provas de ciclismo de estrada profissional em Portugal.
Ciclistas, "o elo mais frágil"
"Resultaram provados praticamente todos os factos constantes da acusação", concluiu o magistrado, considerando que Adriano Quintanilha foi responsável por "engendrar o plano inicial" de aquisição das substâncias ilícitas, as quais depois financiava, com o conhecimento e em conluio com o contabilista Hugo Veloso. Na execução do plano, Nuno Ribeiro punha o doping à disposição dos ciclistas, dando-lhes instruções sobre como o utilizar e indicando "técnicas para conseguirem diminuir as possibilidades" de o mesmo ser detetado.
Para o Tribunal, "passava tudo" por Nuno Ribeiro, "um dos elementos fundamentais do esquema de doping". Contudo, não ficou provado que o ex-diretor desportivo e Adriano Quintanilha usassem da sua "ascendência" sobre os ciclistas para os obrigar a consumir os produtos dopantes. "Não abusaram" do ascendente hierárquico que tinham "sobre os ciclistas para os levar a tomar as substâncias", ressalvou o juiz presidente.
Ainda assim, o tribunal concluiu que "a gravidade dos factos não permite suspender as penas" de Adriano Quintanilha e Nuno Ribeiro.
Já Hugo Veloso foi condenado a uma pena suspensa de três anos e quatro meses. Também suspendeu as penas de todos os ciclistas, por considerar que eram "o elo mais frágil desta cadeia de ligação ao doping". Dois arguidos ligados a farmácias envolvidas no esquema foram absolvidos.
A Associação Calvário Várzea Clube de Ciclismo, detentora da W52-F.C. Porto e presidida por Quintanilha, também é arguida e foi condenada ao pagamento de 57 mil euros ao Estado e, ainda, à pena acessória de interdição do exercício de atividade em competições de ciclismo, profissionais ou recreativas, pelo período de quatro anos.
