Figuras de Estado ou mediáticas, juízes, procuradores, testemunhas, arguidos, entre outros, foram diariamente escoltados no ano passado por 200 elementos do Corpo de Segurança Pessoal.
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São altas figuras do Estado, mas também juízes, procuradores, advogados, testemunhas, arguidos, para além de figuras da banca, dos negócios ou do desporto. Todas exercem funções críticas e estão sujeitas a altos riscos ou foram vítimas de sérias ameaças que mereceram a atribuição de proteção por parte do Corpo de Segurança Pessoal (CSP) da PSP. No ano passado, cerca de meio milhar de pessoas (477) tiveram de ser protegidas para evitarem situações de coação, agressão ou mesmo a morte.
Duas centenas de operacionais, repartidos por Lisboa, Porto, Faro, Açores e Madeira, dão literalmente o peito às balas para proteger as personalidades em perigo, identificadas com nomes de código. Se a sigla "POTUS", dada pelos serviços secretos norte americanos é sobejamente conhecida para indicar a figura do "President Of The United States", em Portugal os nomes atribuídos aos protegidos são todos classificados. Quando Marcelo Rebelo de Sousa se desloca, por exemplo ao Porto, nunca o seu nome ou cargo são referidos na troca de comunicações dos elementos do CSP. Nem tão pouco é referida a palavra Porto. "Todas as entidades, cidades ou nomes são mantidos em segredo por questões de segurança. Fazem parte de documentos classificados que não podemos revelar", explicou ao JN o Intendente Alexandre Vieira, que lidera há cerca de três anos o CSP.
Sentidos em alerta máximo
Sobre o lema "prontidão e lealdade", as mulheres e homens que integram a unidade têm sempre todos os sentidos em alerta máximo para detetarem qualquer pequeno detalhe estranho, indiciador de ameaça. Isso ao mesmo tempo que permanecem discretos, quase invisíveis. "Temos de ser camaleões. Trabalhar sempre na sombra. Evitar que a nossa presença seja detetada, mas ao mesmo tempo temos de ser eficazes, profissionais e leais. Os nossos elementos ouvem muitos segredos quando protegem entidades e têm de ser leais. Se fossemos fazer um livro do que ouvimos dava um grande livro da História de Portugal, porque estivemos em todos os grandes momentos de decisões políticas. Estivemos e estamos nos concelhos de ministros, na presidência da República, junto dos primeiros ministros de esquerda ou de direita", exemplifica o líder do CSP.
"Polícias da sombra"
Mas os "polícias da sombra" não providenciam segurança pessoal apenas às figuras de Estado. Também juízes, magistrados do Ministérios Público, advogados, testemunhas e arguidos, envolvidos em processos judiciais sensíveis podem beneficiar de proteção 24 horas por dia, 365 dias por ano. Uma grande diferença entre a proteção a uma entidade ou um dignitário e uma testemunha ou um magistrado é que os elementos do CSP têm de ser ainda mais discretos "porque enquanto os primeiros têm uma vida publicitada os outros não".
No ano passado, seis juízes tiveram de ser protegidos ao longo de vários períodos do ano. Alguns apenas pontualmente e outros durante várias sessões de julgamentos considerados mais sensíveis. Também dois magistrados do Ministério Público reputados como estando sob ameaça mereceram segurança reforçada, assim como 20 testemunhas.
Avaliações de risco
As outras centenas de pessoas alvo de proteção foram cidadãos anónimos, mas também visitas internacionais ou ainda testemunhas de outras nacionalidades, envolvidas em processos sensíveis de outros países que se deslocaram a Portugal.
Todas elas foram sujeitas a uma avaliação de risco, elaborada pela PSP ou pelos espiões dos Serviços de Informações de Segurança. "Enquanto que as entidades beneficiam de proteção policial, estes últimos têm segurança pessoal, atribuída mediante a avaliação de risco", explicou ao JN a comissária Catarina Neves, que liderou dezenas de missões no terreno ao serviço do CSP.