A PSP está a averiguar internamente o caso de um agente do Comando Metropolitano de Lisboa que é titular de uma conta no OnlyFans, plataforma digital em que os criadores de conteúdos de cariz sexual ganham dinheiro com as fotografias e os vídeos que ali publicam.
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Para promover o perfil naquele serviço de assinatura, em que os utilizadores pagam uma subscrição para verem o que lhes interessa, D. B., de 29 anos e natural do Porto, usa uma conta secundária, privada, no Instagram. No entanto, o mesmo perfil no OnlyFans também é promovido através de fotografias ou excertos de vídeos, em que aparece a interagir sexualmente com o namorado ou com outros homens, disponibilizados de forma pública em perfis de outras pessoas em diversas redes sociais. É o caso, principalmente, do namorado do polícia, que tem 206 mil seguidores no Twitter, 45 mil no Instagram e 298 mil no TikTok.
Sem disfarce nem insígnias
O agente não aparece nas imagens com nada que o associe à PSP, sendo que não terá problema em ser reconhecido. Pelo menos, não recorre a nenhum disfarce durante as exibições, algumas explícitas, em que surge, muitas vezes, em grupos de vários homens.
No OnlyFans, D.B. cobrará 9,99 dólares mensais por subscrição, embora disponibilize pacotes mais em conta, que podem ser adquiridos por períodos de três, seis ou 12 meses.
Segundo apurou o JN, a situação deste agente divide os colegas. Uns consideram que o D.B., na PSP há cerca de três anos, deveria ter mais decoro, para evitar que a sua atividade privada afetasse negativamente a imagem e a reputação da instituição policial. Outros, pelo contrário, não veem mal nenhum, considerando que aquela atividade não colide com as funções policiais e, por outro lado, garante um rendimento extra ao polícia deslocado em Lisboa.
O estatuto da PSP estabelece que os polícias devem ter aprumo e não praticar, "no serviço ou fora dele, ações contrárias à ética e à deontologia policial ou que atentem contra a dignidade da função ou prestígio da instituição". Já o dever de isenção obriga a que "não exerçam qualquer atividade pública ou privada incompatível com a função policial".
Contactada pelo JN, a PSP respondeu que o caso em concreto "se encontra sob escrutínio interno", pelo que, "no imediato", não se pronuncia. No entanto, refere que "tem balizados e definidos, em regulamento, os pressupostos essenciais para o exercício de outras atividades, para além do desempenho profissional na PSP".
O JN tentou entrar em contacto com o agente em questão, mas não obteve resposta.
O que é o OnlyFans?
O OnlyFans é uma rede social que pertence e é operada pela empresa de tecnologia Fenix International Limited (Londres). Nasceu em 2016, com um milhar de utilizadores. Em 2019 já tinha 10 milhões e, com a pandemia de covid-19, deu um salto para os cerca de 100 milhões, em 2021. Atualmente, conta com mais de 150 milhões, em que cerca de um milhão e meio cria conteúdos. O registo implica a criação de um perfil, cuja identidade é verificada através de um documento de identificação, e permite que os interessados possam ser criadores de conteúdo ou simples utilizadores. Os autores definem o valor que querem cobrar e a plataforma fica com uma percentagem dos ganhos. Nos "termos e serviços", a plataforma recomenda a "todos os criadores que procurem aconselhamento profissional para garantir que estejam em conformidade com as regras locais de impostos" e a relatar "o recebimento de todos os pagamentos (...) à autoridade fiscal relevante na sua jurisdição, conforme exigido por lei."
Com farda no Tinder
Com farda no Tinder Em 2022, a GNR abriu processos disciplinares a dois militares que publicaram, na aplicação de encontros Tinder fotografias em que apareciam fardados. Disse então que isso colidia com a deontologia exigível e punha "em causa a imagem institucional" da GNR. Esta também referiu que as imagens deviam ter sido ser evitadas, porque podiam ser "descontextualizadas" ou usadas de "forma maliciosa".
Guarda era ator porno
Em 2016, um militar da Unidade de Intervenção da GNR, colocado no quartel da Pontinha (Odivelas), foi alvo de processo disciplinar por manter uma carreira paralela como ator em filmes pornográficos. Usava o nome artístico Frank Stone, protagonizava cenas de sexo hardcore e até participou numa edição do Eros Porto - Salão Erótico.
Stripper com arma
Um cabo da GNR dos Carvalhos (Gaia) foi suspenso de funções, em 2014, após a divulgação de imagens em que aparecia a fazer striptease, fardado e armado, numa discoteca de Oliveira de Azeméis. Por alegadamente usar também a pistola de serviço naqueles shows, foi condenado a um ano e dez meses de pena suspensa, pelo crime de comércio ilícito de material de guerra. Mas a Relação viria a absolvê-lo, por dúvidas de que a arma usada no striptease fosse a sua Glock 19 de serviço atribuída ao guarda
Lá fora
O OnlyFans já originou casos idênticos no estrangeiro. Em Inglaterra, uma agente da Polícia Metropolitana de Londres pediu a demissão, após a sua conta naquela rede chegar ao conhecimento da hierarquia. Já antes fora advertida por publicar um conteúdo provocatório, de farda, no TikTok. Nos EUA, uma polícia de Detroit foi suspensa por ter sido descoberta a sua conta no OnlyFans com vídeos porno. Mas, antes de cumprir a suspensão, demitiu-se. No Colorado, uma agente que partilhava fotografias de si com o marido saiu da polícia quando os colegas espalharam as imagens pela esquadra. Depois disso, passou a dedicar-se a tempo inteiro à plataforma.