Anónimos e famosos cobram por fotos, vídeos e interações virtuais com fãs que incluem nudez e até sexo explícito. Plataforma OnlyFans lidera com 150 milhões de utilizadores.
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São redes sociais globais semelhantes ao Twitter e Instagram, destinadas a adultos, mas em regime fechado. Os utilizadores pagam subscrição para seguir perfis que lhes interessam. E os que optam por criar conteúdos - que na sua maioria vão do erótico ao sexo explícito - são remunerados [e bem], pelas plataformas. Estas, por sua vez, ficam com uma percentagem do total dos ganhos (entre 15% e 30%). E têm milhões de utilizadores.
Há quem publique sobre música, desporto e até culinária, mas a produção para adultos domina. Fotografias, vídeos e lives com os fãs, além de interações por mensagem privada, rendem somas altas, principalmente a mulheres, jovens e menos jovens, anónimas e famosas. Há desempregadas, gente com várias profissões à procura de uma renda extra, e atrizes, cantoras, apresentadoras, atletas e influencers nestas redes.
A face mais visível desta nova tendência mundial - que já chegou há algum tempo a Portugal - e a mais popular dessas plataformas é o OnlyFans. Nasceu em 2016 com mil utilizadores. Cresceu com estrondo durante a pandemia: de 10 milhões de assinantes em 2019 passou para cerca de 100 milhões em 2021. Atualmente, conta mais de 150 milhões. Cerca de um milhão e meio cria conteúdos.
Tudo ou quase nada
O OnlyFans, que pertence e é operado pela Fenix International Limited (Londres), atualizou há dias as suas estatísticas: o valor do pagamento anual aos autores dos perfis que produzem conteúdo em todo o Mundo ascendia a "mais de 3 biliões de dólares", 2,7 mil milhões de euros. Subiu para 5 biliões, o que equivale a 4,6 mil milhões de euros. "Mais de 100" criadores com conta naquela rede social ganharam "mais um milhão de dólares" (cerca de um 922 mil euros).
Há outras plataformas nesta corrida como a brasileira Privacy. E, no início de março, a revista "Playboy", que foi extinta em 2020, anunciou o seu regresso até ao final deste ano, como publicação em formato digital. As "coelhinhas" serão criadoras de conteúdo adulto (e não adulto) e os subscritores poderão interagir. Ao estilo OnlyFans.
Pandemia aguçou apetite
Júlio Machado Vaz e Tânia Graça são sexólogos, de gerações diferentes. Ambos coincidem que a pandemia propiciou a procura de sexo e contacto nas redes, assim como a disponibilidade para a exploração sexual em casa fez disparar a venda de brinquedos sexuais e potenciou vícios. Consideram que o fenómeno da crescente exposição sexual na Internet é sinal de um tempo novo e pode ter riscos associados.
Artistas internacionais como a cantora Anitta, a rapper e estrela da televisão americana Cardi B e a atriz e cantora, ex-estrela da Disney, Bella Thorne têm conta no Onlyfans. Segundo o site, Beyoncé não está na rede, mas fez disparar o número de seguidores quando lançou uma versão remix do tema "Savage" (abril de 2020), em que a refere.
Supostamente, estas redes só aceitam maiores de 18 anos. O registo implica criar um perfil e optar entre ser criador de conteúdo ou utilizador simples. No OnlyFans, os espectadores pagam subscrição por cada perfil que queiram seguir.
Os autores definem o seu valor, entre cerca de 4,99 a 49,99 euros/mês, publicam conteúdos no "feed" e aguçam o desejo de ver mais dos seus seguidores. Em privado cobram valores extra para satisfazer pedidos "exclusivos". O OnlyFans fica com 20% do total dos ganhos.
Especialistas
Júlio Machado Vaz, médico psiquiatra e sexólogo
"Esta tendência é perfeitamente lógica, afinal propicia um serviço mais personalizado, em que as pessoas têm controlo sobre o que veem. O maior receio, já expresso em múltiplos artigos de investigação, é o reforço de uma visão mecânica do sexo e da objetificação do corpo da mulher, sobretudo em jovens que não têm acesso a outras formas de descobrir e discutir a sexualidade. Que vivemos numa sociedade exibicionista/voyeurista, é ponto assente, mas a "personalização" dos serviços, que acima citei, terá de ser uma das razões, a pornografia gratuita não é moldável pelas fantasias específicas de cada um, neste registo o consumidor não é passivo, mas parte integrante do que acontece. Na realidade ele transforma-se no realizador, encenador e argumentista do que se passa".
Tânia Graça, psicóloga clínica e sexóloga:
"Esta nova tendência parece-me uma consequência da progressiva libertação sexual. Acho que estas novas formas de trabalho sexual vêm de lugares como a exploração sexual, de uma fantasia, de um kink de exibicionismo, podendo com isso ganhar dinheiro. [A procura] Pode ser para viver experiências reais e não encenadas, como na maioria da pornografia. E, sem dúvida, para ter uma experiência de interação e não de mero/a espectador/a. A sensação de sermos participantes, de ter uma intervenção mais ou menos direta, além de ser bastante excitante, pode também proporcionar sensação de pertença e envolvimento. Em contextos mais solitários e com dificuldades relacionais, em que se desenvolvam consumos compulsivos deste tipo de conteúdos, pode ser problemático. Mas, na grande maioria dos casos, é apenas uma nova forma, divertida e potencialmente segura, de explorar a sua sexualidade e prazer".
Outras redes
Privacy
Principal concorrente do OnlyFans, a Privacy, criada no Brasil, promete ganhos entre 35 e 178 euros por mês, sem contar os extra do conteúdo avulso e personalizado. A assinatura varia de 0,90 a 35 euros. A plataforma fica com 20%.
Unlockd
Funciona com assinatura e permite publicar fotos, vídeos e áudios desde "conteúdo não adulto, passando pelo biquíni, lingerie, nudez ou hardcore". Anuncia que cria "estrelas" e proporciona ganhos de "milhares de dólares por dia". Fica com 15%.
Fansly
Funciona num modelo semiaberto. Dá acesso gratuito a vídeos e fotografias, para incentivar o público a interessar-se e optar por planos pagos. Fica com 20%. Há outras plataformas que ficam com 30%