Luís Gaiba, o agente da PSP que está desde ontem em prisão preventiva por ter idealizado e executado o furto das 57 pistolas Glock do armeiro que estava à sua responsabilidade, alertou formalmente a sua hierarquia para as fragilidades que encontrou na segurança e controlo do armamento. O Ministério Público acredita que terá sido uma forma de desviar de si eventuais suspeitas.
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Segundo informações recolhidas pelo JN, a estratégia terá sido definida praticamente ao mesmo tempo que Gaiba decidiu começar a furtar pistolas que não estavam atribuídas ainda a nenhum agente e colocá-las no mercado negro por preços que poderiam chegar aos três mil euros a unidade.
Logo que chegou à função, em 2015, Gaiba foi incumbido de efetuar um levantamento do armamento que ali se encontrava, incluindo as Glock - uma moderna pistola de calibre 9 mm, em estojos, com carregadores incluídos. Terá sido durante este inventário que se apercebeu da ausência de controle e de atualização dos registos, da falta de procedimentos de segurança no acesso ao armeiro e da existência de várias chaves das instalações, dispersas por múltiplos departamentos.
De todas estas fragilidades Gaiba deu conta, por e-mail, à sua hierarquia, procurando demonstrar diligência e preocupação que, pensava, iriam afastar de si as suspeitas. Logo a seguir, no entanto, terá tratado de referenciar as Glock que não estavam distribuídas a nenhum agente e que, por isso, não seriam levantadas do armeiro, não sendo notada a sua falta. Depois, tratava-se de manter os número certos no inventário. E, não fosse ter sido apreendida uma dessas pistolas, por acaso, a um traficante no Porto, não é certo que os desvios tivessem sido detetados.
Entretanto, outras sete armas já foram apreendidas em Portugal e Espanha, sempre a traficantes de droga.
Pormenores
Seis libertados - Outro agente da PSP, colega de Gaiba no armeiro, ficou sujeito a termo de identidade e residência, enquanto os outros cinco detidos têm de apresentar-se às autoridades.
Hells Angels - A PSP está a investigar a venda de uma Glock a um dos 60 detidos no processo do grupo motard Hells Angels, ligado a criminalidade violenta e organizada.
Ligações a Tancos - João Paulino, cérebro do assalto a Tancos, surge neste processo como comprador de pistolas furtadas. Também António Laranjinha é arguido em ambos os inquéritos, como traficante das armas. Paulo Lemos, conhecido como "Fechaduras", é testemunha crucial nas duas investigações.