Operação da Europol apreendeu 136 pistolas de alarme em Portugal, algumas alteradas para disparar balas reais. Foram produzidas na Turquia e compradas em Espanha.
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Mais de 130 das 191 armas de alarme apreendidas durante uma operação que decorreu em 24 países estavam em Portugal e foram descobertas pela PSP. Os donos das pistolas fazem parte de uma lista com dois mil nomes fornecida pela Europol e que serve de guia à operação. Muitas delas seriam transformadas para disparar balas reais e utilizadas por grupos criminosos em assaltos, negócios de droga ou mesmo homicídios. Dois homens foram detidos, no Porto e em Leiria, por estarem na posse de armas alteradas.
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"Foi um duro golpe neste tipo de crime, mas ainda há muitas armas destas a circular", refere o superintendente Pedro Moura, diretor do Departamento de Armas e Explosivos da PSP. Todas as armas apreendidas na operação Bosphorous, coordenada pela Europol, foram produzidas na Turquia e entraram, ilegalmente, no mercado europeu através de países como a Bulgária e a República Checa. Daqui, rapidamente, chegaram a Espanha onde, até há pouco tempo, a lei permitia que fossem compradas em armeiros, mas também em pequenas lojas e até em feiras. Bastava que o comprador apresentasse um documento de identificação, o que levou muitos portugueses a atravessar a fronteira para fazer negócio. Na posse das armas, regressavam a casa e transformavam-nas de forma a dispararem munições letais.
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Numa troca de informação entre as polícias europeias, a PSP teve acesso a uma lista com cerca de dois mil nomes de portugueses que foram a Espanha comprar armas de alarme e, entre os dias 2 e 13 de novembro, realizou dezenas de buscas em todos os distritos do país. No final, foram apreendidas 136 armas de alarme, 1770 munições de vários calibres, quatro réplicas de armas de fogo e diversos componentes de armas, nomeadamente coronhas, canos, culatras e laser. "Foram ainda elaborados 110 autos de notícia por contraordenação", avança a PSP, que deteve dois homens no Porto e em Leiria. "Estavam na posse de armas já transformadas", justifica o superintendente Pedro Moura. O JN apurou que estes detidos não têm antecedentes criminais nem estavam referenciados pelas polícias.
Cada vez mais populares
A nível europeu, a operação Bosphorous envolveu 81 buscas em quatro países. Para além de Portugal, também a Albânia, Roménia e Grécia foram palco de ações policiais que levaram à apreensão de 191 armas e 3714 munições. Foram detidas 11 pessoas, que detinham, ilegalmente, 164 engenhos pirotécnicos e vários documentos de identificação falsos.
"Nos últimos anos, as armas de alarme e de sinalização tornaram-se extremamente populares entre os criminosos e figuram, em números consideráveis, nos casos de tráfico e apreensão de armas de fogo. Isto deve-se ao facto de poderem ser facilmente convertidas em armas letais e serem mais baratas de adquirir", justifica a Europol.
Transformação fácil e efetuada em segundos
Bastam segundos para transformar algumas armas de alarme em pistolas que disparam munições reais. "É só necessário retirar uma peça que está no cano para a arma ficar pronta a disparar", explica um especialista ouvido pelo JN. Noutros casos, o processo é mais elaborado, mas nunca tão complexo para que não possa ser feito em casa. "Tem de se substituir o cano da arma ou perfurá-lo para que seja utilizada uma munição de calibre maior", revela a mesma fonte. O superintendente Pedro Moura destaca, por este motivo, a importância de operações como a que agora foi concluída.
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Metralhadora
Entre as armas apreendidas, há pistolas e revólveres. Mas também uma metralhadora Zoraki 925, uma espécie de mini-Uzi de disparo automático.
Lei proíbe
O superintendente Pedro Moura, da PSP, explica que a lei portuguesa proíbe comprar, transportar ou possuir uma arma de alarme. "É necessário obter uma autorização da PSP, mas há raríssimas exceções que tornam isso possível", afirma.
4000 euros é o valor máximo da multa por posse de arma de alarme. O mínimo são 400 euros. Se a arma for transformada, a pena vai de um a cinco anos de prisão.