PJ do Porto descobriu 12 estufas construídas em dois armazéns equipados com aquecimento, extração de ar e ventilação. Energia furtada à rede pública permitia produção industrial de droga traficada em encomendas postais.
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Arrendaram dois armazéns em locais remotos dos concelhos de Oliveira de Azeméis e de Vila Verde, equiparam-nos com sistemas de aquecimento e extração de ar alimentados por eletricidade furtada da rede pública e cultivaram milhares de pés de canábis. A droga era, depois, embalada em vácuo e exportada para a Holanda, escondida em encomendas postais levadas por transportadoras. Cinco elementos da rede criminosa - quatro asiáticos e um português filho de pais asiáticos - foram detidos, no final da semana passada, pela Polícia Judiciária (PJ). Estão todos em prisão preventiva.
A colaboração entre a PJ do Porto e as transportadoras permitiu que, há dois meses, fossem descobertas encomendas postais que escondiam canábis. A investigação que se seguiu permitiu aos inspetores identificar os membros de uma rede que, pelo menos, há cerca de um ano, se dedicava à produção industrial de canábis.
Quatro deles têm origem asiática e ocupavam posições relevantes na estrutura criminosa. Um destes seria inclusive um elemento predominante do topo da organização. O quinto elemento nasceu em Portugal, tem nacionalidade portuguesa e também integra a comunidade asiática radicada no país. Todos residem no Grande Porto, foram detidos na passada sexta-feira e, após interrogatório judicial, postos em prisão preventiva.
Para esta medida de coação contribuiu o facto de os detidos, apesar de ainda não contarem com nenhuma condenação, terem ligações a outras situações semelhantes de tráfico de droga. Apesar dos avultados lucros obtidos com o tráfico, nenhum deles ostentava sinais de riqueza e dormiam, à vez, nos armazéns para controlar e proteger o cultivo das plantas.
Armazéns insonorizados para não levantar suspeitas
A PJ do Porto também localizou os dois armazéns onde o cultivo intensivo de canábis acontecia. Um estava situado numa freguesia do concelho de Oliveira de Azeméis e o outro numa aldeia de Vila Verde, Braga. Ambos estavam construídos em locais isolados e foram arrendados pela organização.
No interior dos dois espaços foram encontradas 12 estufas, equipadas com sistemas de aquecimento, extração de ar e ventilação. Dez das estufas eram utilizadas para o cultivo controlado dos pés de canábis e duas destinavam-se ao processo de secagem da droga.
Também era nestes dois armazéns, que estavam revestidos com material que abafava o barulho da maquinaria, que a canábis era embalada em vácuo, de forma a camuflar o cheiro próprio desta droga, e posta em caixas.
Todo o processo industrial era alimentado por energia que a organização ia buscar, através de ligações ilegais, aos postes de eletricidade públicos. Trata-se de um crime comum a todas as redes dedicadas à produção industrial de canábis e que, segundo fonte ligada ao fenómeno, visa, "potenciar ao máximo o lucro".
Valor pago na Holanda incentiva exportação
O mesmo motivo financeiro levava a que a organização criminosa exportasse toda a canábis produzida para a Holanda, onde o preço da droga é mais elevado do que em Portugal. A canábis chegava a este país nas viaturas das transportadoras escolhidas pelo cartel para expelir as encomendas postais que escondiam a droga.
Além das cinco detenções, a PJ apreendeu 3700 pés da planta e aproximadamente cem quilos de canábis pronta a ser embalada.