PJ desmantela serviço organizado de evasão fiscal que criou dezenas de empresas de fachada com morada em gabinete de psicologia.
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O grupo que prestava um serviço organizado de branqueamento e evasão fiscal a empresários da “Chinatown”, na Varziela, em Vila do Conde, é suspeito de ter movimentado, nos últimos anos, cerca de 50 milhões de euros. Desde janeiro, foram pelo menos seis milhões, em dinheiro vivo, que passaram pelas mãos dos quatro arguidos detidos pela Polícia Judiciária do Porto e que utilizaram a morada de um pequeno consultório de psicologia de São João da Madeira, para abrir perto de 50 empresas de fachada, criadas para obter contas bancárias e fazer circular o dinheiro. No fim de linha, os milhões da fraude fiscal tinham como destino a China.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, o grupo fazia recolhas diárias de dinheiro juntos dos empresários da Varziela. Em sacos plásticos pretos, recebiam maços de notas da economia paralela que canalizavam para uma multitude de contas bancárias. Essas contas foram abertas em nome da meia centenas de empresas, todas elas com a mesma morada falsa: um consultório de psicologia situado na Avenida da Liberdade, em São João da Madeira.
Empresa na Hora
Para conseguir criar essas sociedades, o “truque” foi utilizar o sistema “Empresa na hora”, que permite fundar uma firma num curto espaço de tempo, através do anonimato da Internet. Com essas sociedades de fachada, detidas e geridas por sujeitos munidos de identidades falsas, abriam as contas nos bancos, onde viriam a efetuar os depósitos em numerário.
Com um ritmo diário, o dinheiro vivo recolhido na Varziela ia parar às contas, espalhadas por agências bancárias de várias zonas como Porto, Santa Maria da Feira ou Trás-os-Montes.
“Faziam pequenos depósitos de cada vez e mal a conta era creditada, o dinheiro seguia para outro destino. Pretendiam sempre manter saldos reduzidos nas contas que abandonavam aos fim de cinco ou seis meses”, explicou ontem o inspetor-chefe Pedro David, da PJ do Porto.
A esmagadora maioria do dinheiro seguia depois, por transferência internacional, para a China, mas também existem indícios de remessas de verbas para outros países. O esquema, que começou em 2019, terá permitido ao grupo tirar da economia portuguesa pelo menos 50 milhões de euros.
Na operação, que começou na segunda-feira e envolveu buscas em casas e empresas de Vila do Conde, Póvoa de Varzim, Gaia e Esposende, onde a PJ contou com a colaboração da ASAE, foram apreendidos cerca de 1,5 milhões de euros, muitas vezes guardados em sacos de plástico.
“Não podemos pôr de parte a possibilidade de este grupo também ter branqueado dinheiro para outro tipo de atividades, além dos empresários grossistas”, admitiu Pedro David.
Pormenores
Três presos
Dos quatro detidos, todos de nacionalidade chinesa, três foram colocados em prisão preventiva. A investigação, tutelada pelo Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) do Porto, diz que são suspeitos de associação criminosa, branqueamento, fraude fiscal e falsificação de documentos.
ASAE no terreno
A operação envolveu 110 elementos da PJ e contou ainda com a colaboração de elementos da ASAE, nas diligências que tiveram lugar em armazéns/estabelecimentos que simultaneamente serviam como residências dos suspeitos.