Rendeiro lembrado na terra dos pais: "Se for extraditado nós é que o vamos sustentar"
Rendeiro é lembrado na Murtosa, terra dos pais, como pessoa de "poucas falas".
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Muitos habitantes da Murtosa sabem que João Rendeiro tem ali raízes, mas poucos se lembram de o ver. Durante parte da sua vida, o antigo presidente do Banco Privado Português (BPP) passou algum tempo naquele concelho do distrito de Aveiro, onde os pais tinham casa. E, na antiga vizinhança, as memórias que restam são as de uma pessoa "reservada", "de poucas falas" e que "não passava confiança a ninguém". Os pais, no entanto, são lembrados como "boas pessoas".
"O João era um borracho e sabia que o era. Não nos ligava nenhuma. Para ele, nós éramos da província", contou ao JN uma antiga vizinha dos pais de João Rendeiro, que conheceu melhor Maria de Jesus, a mulher do fundador do BPP, nos tempos em que ambas frequentavam o Externato São João de Brito, na Murtosa. "Ficámos cheias de inveja quando soubemos que ela andava com ele", lembrou.
João Rendeiro nasceu, viveu e estudou em Lisboa, mas ia à Murtosa pontualmente. Primeiro, por os pais serem de lá naturais e terem lá casa. Depois, porque casou, na vila, com Maria de Jesus, em 1972. Tinham ambos 20 anos.
Os pais, Joana e João Augusto - conhecido por João "Mudo", por não falar -, apesar de terem feito vida na capital, onde abriram uma sapataria, mantiveram na "terra" uma moradia modesta, onde iam com frequência. "Em Lisboa, viviam numa casa com uma renda barata. A determinada altura, talvez quando se reformaram, passaram a vir para aqui mais tempo. Na década de 90, venderam a casa por três mil contos [15 mil euros] e nunca mais os vi", recorda Domingos Cardoso, antigo vizinho.
Domingos também recorda Rendeiro como sendo de "poucas falas". "Dizia bom-dia e boa-tarde e pouco mais". E não tem dúvida sobre qual gostaria que fosse o desfecho do caso do antigo banqueiro: "Não devia ser extraditado. Se vier para cá, nós é que temos de o sustentar na cadeia".