João Rendeiro pediu comida, dinheiro e outros bens emprestados à advogada que contratou na África do Sul até ficar sem quaisquer recursos. A pedido da justiça portuguesa, as contas bancárias sul-africanas e os cartões de crédito do ex-patrão do BPP tinham sido apreendidos aquando da sua detenção.
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June Marks, a advogada de João Rendeiro, revelou este domingo ao JN, que o seu cliente lhe pediu comida e dinheiro emprestado, ao longo das últimas semanas, por estar sem acesso a fundos.
"No início pagou os meus honorários, mas no fim ficou sem acesso a qualquer fundo e quis usar o meu dinheiro. Era dinheiro e comida", explicou June Marks, que revelou ainda: "prometeu-me reembolsar quando tivesse acesso aos fundos que tinha na África do Sul. Foi o que ele prometeu fazer".
Mas todo o dinheiro conhecido que João Rendeiro tinha naquele país foi arrestado pelas autoridades locais aquando da sua detenção. Nesse mesmo dia, a Polícia também lhe apreendeu vários cartões de crédito, deixando-o assim sem conseguir levantar dinheiro. A origem destes cartões, assim como o conteúdo de documentos bancários, foram transmitidos às autoridades portuguesas, ao abrigo da cooperação internacional. Essas informações deverão ajudar a PJ a localizar o paradeiro de milhões de euros que João Rendeiro terá escondido em paraísos fiscais.
Instada a responder sobre a origem dos fundos que permitiram a Rendeiro pagar os honorários da advogada, June Marks recusou-se a responder. "Não posso responder a isso ao abrigo do sigilo entre advogado e cliente. Estou proibida de revelar detalhes sobre o paradeiro do seu dinheiro ou bens e de divulgar aquilo que ele me confidenciou", sustentou.
Desfiada a esclarecer se Rendeiro tentou ter acesso a dinheiro desde que foi detido, June Marks respondeu não ter a certeza. "Se tentou de outra forma [que não através da advogada], não sei, mas julgo que sim. Mas nos últimos meses tenho a certeza que não conseguiu. No fim, o João não conseguia obter nenhum dinheiro".
June Marks fez ainda questão de explicar: "O João sabia há mais de um mês que eu não tinha mais dinheiro para lhe emprestar. Fui eu que mandei fazer compras para ele poder cuidar das suas necessidades pessoais. Trabalhei com uma taxa bastante reduzida para ajudá-lo. E quando não tinha mais dinheiro para ajudar, ele começou a querer usar meu dinheiro pessoal. E sim, dei-lhe do meu dinheiro pessoal, mas avisei-o que não poderia fazer isso. No final, ele queria fazer um acordo ilegal, onde no futuro só pagaria se estivesse livre. É ilegal e eu recusei. Ele queria que eu partilhasse seus riscos. Eu não pude", revelou June Marks.
Ainda de acordo com a advogada, a autópsia ao corpo de João Rendeiro deve ser realizada esta segunda-feira.