Ex-presidente do BPP também tinha três passaportes com o seu nome e adquiridos em "circunstâncias duvidosas".
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Antes de ser detido, João Rendeiro reservou um quarto num hotel cinco estrelas, situado no centro da cidade de Joanesburgo, África do Sul, até março do próximo ano. E foi a mesma unidade hoteleira que apresentou, às autoridades sul-africanas, como residência fixa, alegando que é aí que pretende viver se for libertado, como propôs, mediante o pagamento de uma caução inferior a 2200 euros.
A hipótese é rejeitada pelo Ministério Público (MP) sul-africano, até porque o fundador do BPP tem três passaportes, obtidos em "circunstâncias duvidosas", e pode, alegou o procurador Naveen Sewparsat, fugir para um país sem acordos de extradição com a África do Sul ou Portugal.
O juiz do Tribunal de Verulam, Rajesh Parshotam, anunciará amanhã se mantém o ex-banqueiro preso ou o restitui à liberdade.
Vive com poucos recursos
A audiência de ontem começou com Sean Kelly, advogado de João Rendeiro, a ler uma declaração em que o ex-presidente do BPP salientava que "devia ser libertado sob fiança", porque já foi alvo de "buscas no âmbito do colapso do BPP". "Estou preso por pressão jornalística. Li na Comunicação Social que tenho recursos financeiros ilimitados, mas os meus bens estão arrestados em Portugal. Vivo com poucos recursos. Tenho uma conta nos Estados Unidos da América e outra em África", acrescentou.
Rendeiro mostrou-se também "muito preocupado com a covid-19, que se espalha muito rapidamente nas prisões". O seu defensor alegou questões de saúde para justificar a libertação, mas insistiu, sobretudo, numa detenção ilegal, que não cumpriu as formalidades exigidas e foi efetuada com base em documentos sem autenticação.
Para legitimar a libertação de João Rendeiro, Sean Kelly defendeu, ainda, que o ex-banqueiro já tinha reservado um quarto de hotel até março do próximo ano, o que, disse, mostra que pretende fixar residência na África do Sul. Rendeiro fazia planos, antes de ser detido, de instalar-se no DaVinci Hotel, situado no centro da cidade de Joanesburgo e equipado, entre outras mordomias, com ginásio e jacuzzi. O preço dos quartos varia entre os 78 e os 268 euros por dia.
Contudo, para o procurador sul-africano nenhum dos argumentos apresentados pela defesa do antigo presidente do BPP faz sentido. Além de lembrar que João Rendeiro fugiu à Justiça portuguesa, Naveen Sewparsat referiu que o ex-banqueiro está na posse de três passaportes distintos.
alerta da interpol
Documentos do MP sul-africano, consultados pelo JN, revelam que a Interpol alertou a Polícia da África do Sul para o facto de João Rendeiro ter dois passaportes em seu nome e que um terceiro, com validade até 2025, foi encontrado aquando da detenção. O MP desconhece como é que estes documentos foram adquiridos, mas está convencido que Rendeiro consegue obter um passaporte em "circunstâncias duvidosas".
Terá igualmente, acredita o MP, "acesso a grandes quantidades de fundos", uma vez que continuam por localizar cerca de 13 milhões de euros desviados das contas do BPP. Com este dinheiro, defendeu o procurador sul-africano, o português poderia pagar, facilmente, a fiança inferior a 2200 euros que, ontem o próprio propôs ao tribunal, e rapidamente fugir da África do Sul para outro país", que não disponha de acordos de extradição. "É sabido que um passaporte falso é facilmente obtido na África do Sul e que a travessia ilegal das fronteiras deste país é prática comum", frisa um documento do MP.