Organização criminosa liderada por israelita enganou dezenas de vítimas em França, Bélgica e Suíça. Dinheiro era canalizado para Portugal, onde estão a ser julgados cinco arguidos.
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Criaram uma dúzia de páginas na Internet a publicitar falsos serviços de investimentos em bitcoins, uma moeda virtual, e conseguiram atrair a atenção de centenas de investidores incautos em França, Bélgica e Suíça. Aliciados pela garantia de retornos atrativos, as vítimas transferiram para contas bancárias controladas pelo grupo mais de 16,7 milhões de euros.
O dinheiro veio parar a Portugal, onde os cinco burlões, quatro deles em prisão preventiva, tinham aberto contas bancárias em nome de cerca de 50 empresas que o grupo comprou ou mandou criar, com nomes como Crypto-major.tech ou tradabank.com.
Logo que chegavam, as transferências desapareciam, seguindo para contas em Hong Kong, Turquia, Roménia e Tailândia. Os cinco arguidos, brasileiros e romenos, atualmente a ser julgados no Tribunal de Lisboa, pertencem a uma organização criminosa internacional que terá como epicentro Israel, onde viverá o líder, que nunca foi identificado.
De acordo com a acusação do Ministério Público (MP), a rede era composta por duas dezenas de indivíduos, residentes em vários pontos do globo, que começaram as burlas em 2017.
A estrutura, qualificada de piramidal pelo MP por ter um único líder, intermediários e operacionais, tinha especialistas em informática que criaram 12 páginas na Internet. Estes "funcionários" também eram "responsáveis pela manutenção, gestão das páginas da Internet e estabelecimento de contactos com potenciais investidores/vítimas", explica o MP.
Investimento sem risco
Regra geral, a rede era contactada pelos investidores apenas online. As propostas feitas pelo grupo compreendiam sempre ganhos avultados, provenientes de "investimentos que proporcionavam muitos milhares de euros", através da "realização de investimentos em aplicações seguras, certas e sem riscos, com juros elevados, levando-os a realizar avultados investimentos", garante a acusação.
Para dar uma maior credibilidade ao esquema celebravam com os investidores contratos, que lhes enviavam para assinar. E, tal como nos esquemas de burla em pirâmide, após a realização de pequenos investimentos os suspeitos retribuíam alguns juros, "por forma a criar naqueles [investidores] a convicção da genuinidade do investimento, levando-os dessa forma a realizar mais investimentos e em montantes mais elevados", explica o MP.
Controlavam 50 empresas
Para realçar o aspeto formal do negócio e fazer com que os investidores acreditassem estar perante uma organização empresarial, a rede abriu ou adquiriu empresas em território português . Gheorge Dobrin, Allie Dinco, Ion Cozma, Savel Miron, Marcelo Tobo e Marcelo Amorim, este dois últimos residentes em Valongo e Vila Nova de Gaia, foram os operacionais escolhidos para garantirem a abertura de sociedades e de contas bancárias.
Com o tempo, passaram a controlar cerca de 50 sociedades, formalmente geridas por testas de ferro, que também davam o seu nome às contas pelas quais passaram dezenas de milhões de euros entre 2017 e janeiro de 2019, data em que o grupo foi detido pela Unidade Nacional de Combate à Corrupção da Polícia Judiciária.