À chegada ao tribunal, onde começará a ser ouvido no julgamento da Operação Marquês, José Sócrates acusou as juízas de um "truque de magia" devido à alteração do crime de corrupção. "Mas alguém acredita que existiu um lapso de escrita?", questionou.
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O advogado de José Sócrates apresentou um novo recurso na tentativa de pelo menos suspender o julgamento da Operação Marquês. Pedro Delille exige que o Tribunal de Justiça da União Europeia se pronuncie sobre a qualificação dos crimes de corrupção, pelos quais o ex-primeiro-ministro foi pronunciado pela Relação.
Em causa está o alegado “lapso de escrita” que José Sócrates tem apontado à Justiça. Quando foi acusado pelo Ministério Público (MP), em outubro de 2017, os procuradores imputaram-lhe crimes de corrupção para ato lícito. Porém, no ano passado, após sucessivos recursos e uma decisão instrutória do juiz Ivo Rosa que desfez, quase na totalidade, a acusação, o Tribunal da Relação de Lisboa pronunciou Sócrates por crimes de corrupção para ato ilícito, o que aumenta o prazo de prescrição. As três desembargadoras justificaram a alteração com “um lapso de escrita” do Ministério Público. Sócrates, que também enviou o recurso para o Supremo Tribunal de Justiça, pretende que a decisão de pronúncia das desembargadoras seja anulada.
Para José Sócrates, a alteração do crime foi "um estratagema", um "truque de magia" das juízas. "Ao fim de oito anos, o Estado acha que pode mudar as acusações contra um indivíduo? Não pode. É uma injustiça. Isso viola as leis europeias", defendeu.
O antigo governante, o seu amigo e empresário Carlos Santos Silva e outros 20 arguidos estão a ser julgados por corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal. Ao todo, o empresário terá feito chegar cerca de oito milhões de euros, entre 2010 e 2014, à esfera de Sócrates, que declarou à Justiça terem sido empréstimos cedidos a um “pobre provinciano que andou na política durante uns anos” pelo amigo de infância, um homem “de posses”.