O antigo primeiro-ministro José Sócrates afirmou, esta terça-feira, no tribunal judicial de Lisboa que está a julgar o caso da Operação Marquês, que está a ser alvo de uma "acusação masoquista", rejeitando ter acertado uma estratégia sobre a venda da Vivo pela PT.
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"O MP diz que eu agi ou que o Governo agiu para fazer o que o Ricardo Salgado quis que não se fizesse. É uma corrupção masoquista. É a primeira vez que isto acontece na história: ser acusado de mentir, com reserva mental. Fingir que não queríamos vender a Vivo, quando votámos contra a venda da Vivo", afirmou Sócrates.
O ex-primeiro-ministro lembrou o que o governo fez: "houve muitas pressões sobre o governo para que a venda da Vivo se efetuasse. Fosse uma decisão corajosa de não abandonar a internacionalização da PT", afirmou, contextualizando: "o setor da telecomunicações era vital. Em 2010, representava 6,4% do PIB. A internacionalização da PT e a sua presença no Brasil era um motor do desenvolvimento tecnologica. A Vivo era uma das grandes empresas do Brasil. A nossa presença dava escala à PT, capaz de ser um músculo de inovação. Disputava um mercado de 220 milhões de euros", argumentou.
Por todos estes argumentos, garantiu Sócrates, o governo se opunha à venda da Vivo.
“Onde está a prova que o governo tinha uma reserva mental. Eles, o Ministério Público, bastam insultar. Não têm que provar nada”, afirmou Sócrates.
O ex-primeiro-ministro invocou um despacho do governo que ordenou ao representante do Estado para se opor à venda da Vivo por parte da PT. Para afirmar que a acusação do MP é infundada, Sócrates citou, ainda, um parecer de um funcionário da Direção Geral do Tesouro que diz que o Estado deve usar a Golden Share da PT para rejeitar a venda da Vivo.
“Como se pode acusar alguém de ser a favor da venda da Vivo, se todo o governo faz pareceres e despachos contra a venda da Vivo. É o reino da total especulação e fantasia”, acusou Sócrates, que citou o despacho de não pronuncia o juiz Ivo Rosa.
Na véspera da assembleia-geral da PT, Henrique Granadeiro informou Sócrates que a administração da PT tinha decidido vender a Vivo: “Pensei para mim: isto é prejudicial para o país. Não vou deixar fazer isto [vender a Vivo aos espanhóis]", disse.
De acordo com Sócrates, no dia seguinte, o Ricardo Salgado pediu-lhe, pessoalmente, para não usar a Golden Share e "eu respondi-lhe que tinham agido nas costas no governo e que era um ato contra o Estado", garantiu, prosseguindo: "uns anos depois, sou acusado de fingir que votávamos contra a venda da Vivo”, diz Sócrates que acusa o Ministro Público de incongruências e de produzir imputações criminais absurdas.