Os habitantes do Porto estão a consumir cada vez mais cocaína e canábis. Já em Lisboa, que se mantém entre as dez cidades europeias com maiores consumos de drogas, registou-se uma diminuição do uso de drogas sintéticas como o ecstasy.
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Estas são algumas das conclusões das análises às águas residuais de 88 cidades, de 24 países, efetuadas pelo Observatório Europeu da Droga e Toxicodependência. O estudo, que será apresentado nesta quarta-feira, mostra que o consumo de cocaína continua a aumentar de forma generalizada na Europa e alerta para a crescente popularidade da cetamina como droga recreativa.
Ao JN, o analista do Observatório, João Matias, explica que o Porto “está a meio da tabela” e, portanto, muito longe das principais cidades europeias no que diz respeito ao consumo de cocaína. Avisa, porém, que, comparativamente a anos anteriores, as análises às amostras de águas residuais, recolhidas entre março e maio do ano passado, revelam que há cada vez mais portuenses a utilizar esta droga, assim como canábis. “O aumento do consumo de cocaína no Porto segue a tendência europeia dos últimos cinco anos”, garante.
Já em Lisboa, refere o especialista, assistiu-se a uma diminuição do consumo de ecstasy/MDMA, mas a capital portuguesa continua entre as dez cidades onde a população mais recorre a drogas. Para João Matias, estes dados, “mais do que preocupantes, são um alerta”. “O impacto da pandemia da covid-19, com o aumento do stresse e do desemprego, influencia os consumos. Por outro lado, as drogas estão disponíveis em todo o lado e afetam todos. Acho difícil voltarmos à pandemia da heroína dos anos 80 [do século XX], mas é preciso estarmos atentos”, sublinha.
Popularidade da cetamina
As mais recentes análises dos esgotos de mais de 55 milhões de europeus detetaram resíduos de cocaína elevados em quase todo o lado e em 49 cidades registou-se um aumento dos níveis de anos anteriores, o que prova o crescimento desta substância. Bélgica, Países Baixos e Espanha continuam na liderança das nações com maiores consumos não só de cocaína, como ainda de metanfetaminas. “São países produtores de drogas sintéticas e que têm portos marítimos usados como portas de entrada de cocaína na Europa”, declara João Matias.
O técnico do Observatório Europeu da Droga e Toxicodependência destaca, igualmente, a sinalização de resíduos de cetamina entre as amostras recolhidas. “O consumo desta droga teve um aumento na maioria das cidades”, avança. A cetamina é um medicamento usado por veterinários ou como analgésico humano, mas que, nos últimos anos, tem sido usada como droga recreativa, em ambientes noturnos. “Provoca alucinações e o consumo por um longo período causa problemas de bexiga nos homens e doenças cardíacas”, previne João Matias.
Conclusões
Mais drogas sintéticas
Pela primeira vez, o estudo incluiu o Brasil, a Nova Zelândia e os Estados Unidos da América, o que permitiu concluir que os europeus consumem mais drogas sintéticas e a mesma quantidade de cocaína.
Consumo espalha-se
As análises aos esgotos mostraram que não há variações significativas entre pequenas e grandes cidades no que se refere ao consumo de drogas. Tal sugere que os padrões urbanos estão a espalhar-se rapidamente.
Cocaína para diversão
Na maioria das cidades, o consumo de drogas recreativas, como a cocaína, acontece ao fim de semana. Já a canábis é consumida ao longo da semana.