PJ fez buscas no Porto e Algarve por suspeita de adulteração das análises de despistagem da covid-19 a futebolistas.
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A suspeita de que o portista Shoya Nakajima conseguiu viajar para os Emirados Árabes Unidos com recurso a um teste à covid-19 falsificado deu origem a uma investigação que levou o Ministério Público (MP) e a Polícia Judiciária a realizarem cerca de uma dezena de buscas, esta quinta-feira, "nas regiões do Algarve e do Porto".
A investigação visa já não só o caso daquele japonês, que o F. C. Porto emprestou ao clube árabe Al-Ain, mas um esquema mais amplo de viciação de testes, que terá sido posto em prática numa fase da época desportiva em que atletas e técnicos dependeram de dois resultados negativos para fazer cada jogo.
"As autoridades comunicaram esta manhã a sua presença em várias unidades laboratoriais no país, no âmbito de uma investigação relacionada com testes realizados a vários jogadores de futebol profissional", assumiu a Unilabs Portugal, que tem feito testes a "mais de 30 clubes a nível nacional" e foi visada por buscas da operação "Covid Free" "nas suas instalações administrativas e laboratoriais, nas cidades do Porto e de Matosinhos".
A SAD portista também confirmou "buscas nas suas instalações e no Centro de Treinos e Formação Desportiva PortoGaia", em "investigação que tem por objeto o resultado do teste à covid-19 necessário para a viagem realizada em janeiro de 2021 por um jogador do seu plantel principal".
Também em comunicado, o MP e a PJ assumiram que "na origem desta investigação está uma viagem de avião, para o estrangeiro, realizada por jogador de futebol profissional, alegadamente infetado com covid-19", o que configurará um crime de propagação de doença, punível com um a oito anos de prisão.
À cata das zaragatoas
O caso que originou a investigação será o de Nakajima. Segundo apurou o JN, as autoridades suspeitam de que, no momento da sua saída do F. C. Porto, o jogador acusou positivo para a covid num primeiro teste, mas terá feito outro teste e conseguido um resultado negativo. Desconfiada deste negativo, a PJ foi esta quinta-feira à Unilabs procurar documentação deste novo teste e até as respetivas zaragatoas, em operação acompanhada por um juiz e por um elemento do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge.
O MP e a PJ não esclareceram se já identificaram outros jogadores, no F. C. Porto ou noutros clubes, suspeitos de usar testes falsos para viajar ou competir. Mas os inspetores da Unidade Nacional de Combate à Corrupção, da PJ, também saíram esta quinta-feira de Lisboa para fazer buscas no Algarve. Os alvos estarão relacionados com o Portimonense e o seu principal acionista, o brasileiro Theodoro Fonseca, que têm feito negócios com o F. C. Porto.
A Unilabs, liderada pelos filhos do ex-autarca de Gaia, Luís Filipe Menezes, e do presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Fernando Gomes, é a empresa à qual a Liga de Clubes adjudicou a realização dos testes periódicos nos clubes.
Diretor da Unilabs nega qualquer falsificação
O diretor-geral da Unilabs, Luís Menezes, afirmou, esta quinta-feira à noite, que o último das "dezenas de testes" que Nakajima fez nos seus laboratórios foi a 6 de janeiro. E este, como os anteriores, deu negativo, disse, à SIC, acrescentando que não foi com este resultado que o futebolista voou para o Dubai, dia 13, dado que as regras exigiam um teste realizado nas 48 horas anteriores à viagem, mas com o resultado de um teste feito noutro laboratório.
"Nunca nenhum clube nos pediu para alterar um resultado", declarou também Menezes, não obstante, mais à frente, ter dito que o Sporting pediu que a Unilabs alterasse dois positivos.