O suspeito de liderar uma rede de tráfico de droga, que atuou nos distritos de Aveiro e Porto, negou esta manhã, no Tribunal da Feira, a existência dessa organização criminosa, admitindo, no entanto, que traficava droga sozinho. Um edifício em São João da Madeira era um dos principais locais de revenda.
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O processo envolve 14 arguidos (11 homens e três mulheres), que começaram a ser julgados por crimes de tráfico de estupefacientes agravado e associação criminosa. Dois deles respondem ainda por posse de armas proibidas e um por condução sem habilitação legal.
Um dos suspeitos, apontado pelo Ministério Público como o alegado cabecilha do grupo, negou perante o coletivo de juízes ser responsável por qualquer rede organizada de tráfico, embora tenha admitido parte dos factos de venda de droga descritos na acusação.
Contudo, acabaria por confirmar ao juiz presidente do coletivo que, no primeiro interrogatório judicial, “disse que era o cabecilha. Assumi tudo (…) que era cabecilha e que não consumia”. Uma confissão que agora diz não corresponder à verdade, justificando que “ia ser pai e queria ir embora”. Explicou ao tribunal que pensava, com essa declaração, conseguir estar presente no nascimento do filho.
Nas declarações prestadas esta quarta-feira, afirmou que comprava heroína e cocaína por cinco euros e revendia por dez euros, tendo dias em que alcançava vendas entre os 400 e os 500 euros. Justificou essas atividades com a necessidade de sustentar o seu vício em drogas e em jogo.
As declarações deste homem foram, em parte, contrariadas por outro arguido que afirmou ter sido obrigado a vender droga a mando do alegado cabecilha da organização. “Ninguém aqui vendia para cada um. O que nós vendíamos era para ele”, adiantou depois de pedir para falar na ausência dos restantes arguidos, por receio de sofrer represálias.
Este outro arguido, que também se encontra detido, afirmou, ainda, que era ameaçado pelo principal arguido para guardar droga gratuitamente na sua casa.
Droga levada do Porto para São João da Madeira
Segundo a acusação do Ministério Público, os arguidos integravam uma organização estruturada e hierarquizada, dedicada ao tráfico de estupefacientes — nomeadamente cocaína, heroína e canábis —, atuando de forma concertada para obter lucros com a venda dessas substâncias a terceiros.
A droga seria adquirida nos bairros de Pinheiro Torres e da Pasteleira, no Porto, e revendida, entre outros locais, em São João da Madeira. Nesta cidade, havia um conhecido edifício onde vários arguidos e consumidores se deslocavam maioritariamente para adquirir as substâncias.
Também um apartamento situado na freguesia de Arrifana, em Santa Maria da Feira, serviria, de acordo com a acusação, como local de armazenamento, doseamento e venda de droga. Há, ainda, referência a vendas realizadas em Oliveira de Azeméis e em Vale de Cambra.
Os suspeitos foram detidos numa megaoperação policial de combate ao tráfico de droga, realizada em maio de 2024 nos distritos de Aveiro e do Porto. Durante a ação, os militares da GNR cumpriram 28 mandados de busca, dos quais 20 domiciliários e oito em veículos.