Três testemunhas, duas delas supostamente lesadas por César Boaventura, relataram esta segunda-feira em tribunal os negócios que tinham feito com o empresário de futebol. Boaventura está a ser julgado por dez crimes de burla qualificada, falsificação de documentos, fraude fiscal qualificada e branqueamento de capitais.
Corpo do artigo
Na continuação do julgamento da “Operação Malapata”, no Tribunal de São João Novo, no Porto, todas as testemunhas mencionaram promessas feitas por César Boaventura, que nunca foram cumpridas. Um empresário vendeu-lhe uma casa milionária, junto à praia de Esposende, mas só recebeu o sinal de 15 mil euros. Garantiu que andou a ser enganado durante mais de dois anos até conseguir recuperar o imóvel.
José Veloso, um empresário minhoto, de 73 anos, vendeu a casa a César Boaventura, acreditando estar a fazer negócio com “gente séria”. Não o conhecia, mas um amigo, José Patrão, foi quem intermediou a venda, afirmando ser filho de “homem muito sério”. Veloso acreditou, até porque quando conheceu Boaventura este pareceu-lhe de confiança.
O empresário de futebol ter-lhe-á contado que “estava à espera de milhões” e José Veloso fez um contrato de promessa de compra e venda, com uma entrada de 15 mil euros. Depois, enquanto esperava pelo resto – a casa estaria avaliada em 400 mil euros – Boaventura ia pagando “uma renda” de 1500 euros mensais.
Nunca lhe deu um tostão. Ao fim de “dois ou três anos” e já “farto de pedir o dinheiro ou a casa, o mesmo amigo que lhe tinha trazido Boaventura conseguiu que ele entregasse as chaves. Veloso desistiu da ação em tribunal e vendeu a casa a outro, “embora muito deteriorada”. Conseguiu os 400 mil euros.
Segundo a acusação, a imagem de empresário de sucesso terá servido a César Boaventura para realizar fraudes e burlas. Hugo Ricardo, que trabalha num stande de automóveis, também ouvido ontem, afirmou que fez um negócio com o arguido e confiou nele porque, “do que tinha ouvido falar, ele tinha poder financeiro e reputação”. Assim, entregou um Range Rover a Boaventura, mediante a promessa de que ele entretanto pagaria cerca de 50 mil euros, através de transferência bancária. Segundo a testemunha, justificou que estava “à espera de um dinheiro que ia receber”.
Para comprovar o seu estatuto, o empresário terá mostrado um extrato bancário ao vendedor. “Eu não o vi, embora ele quisesse mostrar”, disse em tribunal Hugo Ricardo. Porém, o procurador da República advertiu o vendedor, para o facto de ele, no inquérito inicial, ter afirmado o contrário, tendo até indicado que o extrato mostrado estava em euros. Agora, ao coletivo de juízes afirmou não saber sequer em que moeda estava. Por estas contradições, o advogado de César Boaventura, Carlos Alves, pediu a anulação do seu depoimento.
Na mesma audiência testemunhou também Vítor Silva, um “gestor de ativos”. Afirmou conhecer Boaventura desde 2010 e que, a determinada altura, porque o empresário de futebol estaria a passar por um processo de insolvência, aceitou figurar como sócio gerente da empresa Dominiovedeta, por onde transitaram quantias “enormes”. Admitiu que chegou a levantar dinheiro no banco, em montantes que não especificou, mas garantiu que entregou “tudo” a Boaventura, até que, “no ano passado”, passou a sua quota para um nome que o empresário lhe indicou.
Na “Malapata” estão acusados outros quatro arguidos: Ramiro Viana, descrito na acusação como “homem de recados” de César Boaventura; José Meira, gerente da empresa Transdrive, Unipessoal, Lda., e Ilda Barbosa e Paulo Torres, detentores de contas que o Ministério Público diz terem sido utilizadas para branqueamento de capitais.
O julgamento continuará esta semana.