O Ministério Público vai abrir uma ação contra duas testemunhas que, nesta sexta-feira, alteraram o depoimento, no caso da morte de Igor Silva, junto ao estádio do Dragão, no Porto, durante os festejo do título de 2022.
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À Polícia Judiciária, as duas testemunhas terão relatado agressões e apontaram Marco "Orelhas" como um dos autores, porém, em tribunal, mudaram radicalmente a versão e disseram que não tinha visto agressões, mas apenas a vítima a fugir e depois já no chão.
"É um testemunho tão mentiroso que nem vou pedir para confrontar com as declarações anteriores e vou já remeter certidão para o DIAP", anunciou a procuradora referindo-se ao testemunho de José Magalhães. O adepto do F. C. Porto disse em tribunal que viu Igor a fugir e cair, mas que não viu ninguém persegui-lo. Confrontado pela juíza, admitiu que "houve uma coisa que disse e não devia ter dito", afirmou José Magalhães referindo-se às declarações que prestou dias depois da morte à PJ.
"Em algum sítio o senhor mentiu", reforçou uma das juízas, referindo-se ao depoimento de José Magalhães. Outra testemunha disse agora que não assistiu a agressões e afirmou que foi a filha a ver "um sujeito a dar um pontapé".
Tal como o Ministério Público, o advogado da mãe de Igor Silva pediu a extração de uma certidão, para ser entregue no Departamento de Investigação e Ação Penal, com vista a uma eventual ação criminal por falso testemunho. Uma das juízas do coletivo alertou as testemunhas que podiam incorrer em prática criminal, com pena de prisão ou multa, mas nenhuma alterou o depoimento dado em tribunal
”Os depoimentos nem de perto nem de longe batem certo. É totalmente o oposto", considerou Nelson Sousa, advogado da família de Igor, à saída do tribunal. "É gravíssimo. Há inclusive uma testemunha que admite que mentiu na PJ", acrescentou.
Anteriormente, uma outra testemunha, Leandro Martins, mudou o depoimento em sentido contrário. À Polícia Judiciária, afirmou não ter assistido às agressões que resultaram na morte de Igor, mas em tribunal referiu que viu o Marco "Orelhas" em cima da vítima. "Ele conhece a minha família. Não disse a verdade porque tive medo de retaliações. Agora não tenho medo. Ele foi para cima do corpo e disse 'fala agora', ou algo similar", explicou.
Segundo a acusação, validada pelo Tribunal de Instrução Criminal do Porto, o grupo de sete homens, onde se incluía Marco "Orelhas", destacado elemento dos Super Dragões e pai de Renato Gonçalves, 20 anos, montou uma emboscada a Igor com o propósito de lhe tirar a vida. Foi Renato quem liderou "perseguição desenfreada" e esfaqueou a vítima 18 vezes, em três momentos diferentes, sustenta o Ministério Público
Perseguiram e agrediram com o objetivo de lhe tirar a vida
Ainda segundo a acusação, motivados por um desejo de vingança alguns dos suspeitos perseguiram, manietaram e agrediram a vítima com o propósito de lhe tirar a vida, agredindo-o a socos, murros e pontapés e usando uma faca com uma lâmina de cerca de 15 a 20 centímetros.
Nessa sequência, a vítima mortal, de 26 anos, foi esfaqueada várias vezes em diferentes partes do corpo e, apesar de ainda ter sido transportada para o Centro Hospitalar Universitário de São João, no Porto, acabou por morrer, refere.
"As lesões traumáticas torácicas e abdominais determinaram como consequência direta, adequada e necessária, a morte [da vítima]", sublinha a acusação.
O Ministério Público (MP) considera ainda que os setes arguidos acusados de matar o adepto "não souberam refrear os seus impulsos violentos, motivados por um desejo de vingança, numa escalada de violência por motivos relacionados com desentendimentos familiares". Atuaram "de forma concertada, em conjugação de esforços e divisão de tarefas" usando da violência e de uma faca para impedir que a vítima se defendesse e fugisse, ressalva.
Os arguidos agiram de forma "livre, deliberada e consciente" sabendo que a sua conduta poderia causar a morte da vítima, tal como aconteceu, e que era proibida e punida por lei.