Traficante fez uma viagem rocambolesca na A2: viu o carro arder, estava ilegal, foi apanhado com droga, fugiu do posto da GNR e foi declarado contumaz.
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Um cidadão natural de Cabo Verde, cuja última morada conhecida era na Amadora, que estava fugido à justiça e declarado contumaz, foi acusado do crime de tráfico de estupefacientes e outras atividades ilícitas e vai ser julgado no Tribunal Judicial da Comarca de Beja (TJCB).
Amilton Borges, de 32 anos, desapareceu de Portugal e, face à impossibilidade de o notificar, o Ministério Público (MP) de Ferreira do Alentejo decidiu “proceder à competente acusação, assumindo o denunciado a qualidade de arguido por mero efeito desta”, pode ler-se no despacho a que o JN teve acesso.
Sem possibilidade de poder solicitar a emissão de quaisquer documentos, o arguido apresentou-se recentemente no TJCB, onde foi ouvido, constituído arguido e teve conhecimento da acusação que pendia contra si.
A história da detenção de Amilton Borges é rocambolesca, com contornos para fazer parte de um filme de Hollywood. Na manhã de 17 de julho de 2018, o indivíduo circulava na Autoestrada do Sul (A2), num automóvel Hyundai, sentido norte/sul, tendo como destino Portimão para fazer entrega de estupefacientes a consumidores. Ao quilómetro 130,7 da A2, na freguesia de Figueira de Cavaleiros, concelho de Ferreira do Alentejo, a viatura começou a arder, o que foi comunicado à GNR. Ao fazer a identificação do condutor, perceberam que o mesmo estava em situação irregular em território nacional.
Conduzido ao posto da Guarda para a competente identificação e comunicação às autoridades judiciais, Amilton foi sujeito a uma revista, ocultando no interior da sua roupa interior (boxers), junto aos genitais, três embalagens de produto estupefaciente, nomeadamente cocaína e heroína suficiente para 178 doses individuais. Segundo o despacho, o MP considera que “a venda dos referidos produtos corresponderia a um benefício económico no montante global de 2350 euros”.
Mas o rocambolesco da viagem de Amilton não se ficou por aqui, uma vez que após ter sido revistado, o arguido logrou fugir das instalações do posto da GNR de Ferreira do Alentejo, desaparecendo para parte incerta, nunca mais tendo sido localizado.
Agora além da acusação do crime de tráfico de estupefacientes e outras atividades ilícitas, face à gravidade dos factos praticados e “à sua personalidade, eventual reincidência, o grau de inserção na vida social e a prevenção especial”, o MP pede “a aplicação da pena acessória de expulsão”.
A acusação vai mais longe e, caso o arguido seja condenado a uma pena de prisão igual ou superior a 3 anos, a Procuradora responsável pela acusação promove que, após o trânsito em julgado, “se proceda à recolha de amostras de células humanas com finalidades de investigação criminal”, justifica a magistrada.