Operacionais sérvios e brasileiros vieram a Portugal e agrediram, durante três dias, um empresário lisboeta. A vítima ia ser morta em Espanha.
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Traficantes sérvios e brasileiros deslocaram-se a Portugal para raptar, agredir e, caso fosse necessário, matar um empresário português. Os dois cartéis, descritos como muito violentos, estavam convencidos de que o lisboeta tinha ficado com 221 quilos de cocaína, avaliada em mais de sete milhões de euros, que chegou a Portugal dissimulada em embalagens de café moído. A droga, no entanto, tinha sido apreendida pela Polícia Judiciária (PJ), que, em novembro do ano passado, deteve sete das oito pessoas que, este mês, foram acusadas de associação criminosa, tráfico de droga, rapto, sequestro e coação agravada.
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O negócio foi celebrado em março do ano passado, com um cartel de sérvios a encomendar uma grande quantidade de cocaína a uma organização brasileira. Os sérvios contrataram ainda um empresário português, já com ligações ao tráfico de droga, para que este angariasse uma empresa que pudesse importar, sem levantar suspeitas, o café que esconderia a cocaína.
Tudo foi organizado sem constrangimentos e, em novembro último, chegou a Portugal um contentor marítimo, carregado com 881 embalagens de café moído. O recetáculo foi, entretanto, enviado para uma empresa de transporte, localizada em Alverca, e foi aí que uma fiscalização da Autoridade Tributária descobriu a cocaína entre o café moído.
Cartéis ficaram sem a droga
A PJ foi informada e manteve o contentor sob vigilância, na esperança de descobrir a quem pertencia a cocaína. A estratégia deu resultado quando um brasileiro, a morar em Portugal há vários anos e contratado pelo empresário lisboeta, foi recolher o contentor.
Os inspetores assistiram a toda a operação logística e seguiram o camião. Contudo, já na margem sul, o condutor percebeu que estava a ser vigiado e abandonou viatura e carga, junto a um espaço comercial. A PJ manteve-se a vigiar o contentor mas, perante a ausência de movimentações, recolheu a droga.
A apreensão não foi tornada pública e os traficantes sérvios e brasileiros nunca perceberam o que realmente tinha acontecido com os 220 quilos de cocaína. Estavam convencidos de que tinha sido o intermediário português a ficar com a droga e enviaram quatro operacionais (um brasileiro e três sérvios) a Lisboa para recuperar a produto. O português foi, então, raptado e, durante três dias, mantido preso no seu próprio apartamento, situado no Parque das Nações, em Lisboa, onde foi agredido para que revelasse o paradeiro da cocaína.
Com a vítima em silêncio, porque também desconhecia que a carga tinha sido apreendida pela PJ, os traficantes sérvios e brasileiros preparavam-se para a levar para Espanha, para, acredita a investigação, a matar.
Tal só não aconteceu porque, alertada pela mulher do raptado, a PJ libertou o português e deteve os sérvios e brasileiros.
Operacional
O cartel brasileiro mantinha em Portugal um operacional em permanência. Este controlava a chegada da cocaína vinda da América do Sul e também está acusado.
Matrículas
Uma portuguesa, mulher do operacional brasileiro, está acusada de aceder ao sistema informático da empresa onde trabalha para confirmar se as matrículas enviadas pelo marido pertenciam a carros da PJ.
Crimes
Segundo a acusação, os detidos cometeram os crimes de associação criminosa, tráfico, rapto, sequestro, coação, acesso ilegítimo e detenção de arma proibida.