Tribunal do Porto condenou 19 pessoas que integravam rede de tráfico. Líder do cartel apanhou 16 anos de prisão e irmão vai preso 13.
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Não é caso único, mas é uma decisão rara. O Tribunal de São João Novo, no Porto, condenou, esta semana, 12 pessoas pelo crime de associação criminosa, por integrarem uma organização dedicada ao tráfico de droga, através do método "go fast" - "ir rápido", em português. Outras sete foram condenadas apenas por tráfico.
Nuno Caetano, desempregado e quase a celebrar 40 anos, vai preso por 16 anos, e o irmão, Antero Caetano, e a companheira deste, Paula Fernandes, apanharam 13 anos de prisão. Os restantes membros da rede que introduzia cocaína, heroína, haxixe e canábis na Área Metropolitana do Porto foram condenados a penas entre os sete e os 13 anos de cadeia.
Perante a prova produzida no julgamento, os juízes ficaram convencidos de que Nuno e Antero Caetano, Paula Fernandes, Omar El Hallak, Mário Soares, Bruno Vieira, Nuno Silva e Joel Duarte "decidiram constituir uma organização criminosa, com vista a, de forma duradoura, se dedicarem à comercialização" de droga. A rede assentava numa "estrutura estável e hierarquizada", na qual cada elemento tinha uma tarefa e recebia pela responsabilidade que assumia.
Nuno Caetano, conhecido pela alcunha "Keitas", era o líder e quem negociava com traficantes de Lisboa e Algarve, mas sobretudo do Sul de Espanha e até dos Países Baixos. Foi ainda Nuno Caetano quem decidiu traficar centenas de quilos de droga entre Amesterdão ou Málaga e Vila Nova de Gaia, através do método "go fast".
Comboio de carros
Com este esquema, os traficantes criavam uma espécie de comboio de carros, em que o primeiro da fila transporta os vigias responsáveis por confirmar que o caminho está livre de polícias. Um segundo automóvel transporta a droga em compartimentos secretos e, a fechar a "coluna, uma terceira viatura dá a segurança necessária para escapar a uma eventual emboscada ou ultrapassar percalços que surjam durante a viagem.
O grupo agora condenado por associação criminosa utilizava sempre um carro comprado em França e modificado para ter, no chão da carroçaria e entre os bancos, um compartimento oculto, que só abria com uma chave própria. Já os automóveis de apoio eram alugados para afastar suspeitas.
O esquema "go fast" permitiu que os membros do cartel percorressem milhares de quilómetros sem que a droga fosse detetada. Em novembro de 2019, por exemplo, foram transportados 30 quilos de haxixe, avaliados em 130 mil euros, comprados no Sul de Espanha. E, em janeiro de 2020, traficaram-se 560 mil euros em haxixe, adquirido nos Países Baixos.
O compartimento secreto só não deu para esconder, por ser demasiado pequeno, um fardo de haxixe que o grupo comprou em Espanha e que transportava, em setembro de 2020, na bagageira. A droga foi apreendida pela PSP, que, através da Divisão de Investigação Criminal do Porto, já monitorizava há muito as atividades da rede criminosa.