Contentores são o principal esconderijo de droga. Jatos privados são opção.
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"Com a pandemia houve um acréscimo do tráfico por via marítima para compensar uma quebra muito acentuada no tráfico por via área", destaca Artur Vaz. E os números dão razão ao diretor da UNCTE.
Em resultado de 30 apreensões, as autoridades policiais detetaram 17,8 toneladas de droga a ser traficada em veleiros, pesqueiros, navios de carga e em lanchas rápidas. Mais de dez toneladas eram haxixe, mesmo que, no ano transato, tenha sido apanhada cerca de metade do valor alcançado em 2020, relativamente a este produto estupefaciente.
Já por via área, que inclui droga escondida em bagagens, na estrutura da aeronave e até no corpo dos passageiros, foram apreendidos 1200 quilos de droga (quase tudo cocaína), em 66 situações de tráfico identificadas. O Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, com 759 quilos de cocaína e 5,5 quilos de heroína apreendidos, foi a principal ponte aérea para Portugal.
"Devido ao menor número de voos durante a pandemia, as organizações acabaram com os "correios" [pessoas que ingerem droga ou a dissimulam no próprio corpo] e optaram por transportar a droga na carga de navios", explica Artur Vaz. O mesmo responsável acrescenta que os cartéis recorrem, cada vez com maior frequência, a contentores que, transportados em navios de grande dimensão, chegam à Europa através dos principais portos marítimos, nomeadamente os de Antuérpia, na Bélgica, e de Roterdão, nos Países Baixos. "Há cada vez mais ligações marítimas entre a América Latina e a Europa", justifica.
Jatos privados
Apesar desta tendência, especialistas no fenómeno referem que, com o disseminação da vacina anticovid, assiste-se, desde outubro do ano passado, "a uma maior abertura dos aeroportos nacionais e ao consequente aumento do número de passageiros com droga".
Alertam, igualmente, para o recurso a jatos privados para traficar cocaína através de aeródromos. "Com o aparecimento da pandemia percebeu-se que esta passou a ser uma solução dos traficantes", dizem. E o certo é que, no ano passado, foram apreendidas mais de 99 quilos de cocaína, em duas situações distintas, no aeródromo de Tires, em Cascais.
Devido ao crescente número de casos, em agosto último, a PJ inaugurou instalações neste aeródromo, onde, em julho, foi descoberta cocaína no mesmo jato que, meses antes, ia fazer a viagem entre Brasil e Portugal com meia tonelada de droga. Brasil é, de facto, o principal ponto de partida de jatos privados carregados de cocaína que aterram em Portugal. Outro é a República Dominicana.
A heroína, que num passado recente, chegava em carros e camiões, através das fronteiras da Europa do Leste, é encaminhada, agora, para Moçambique e África do Sul, de forma a evitar o controlo dos polícias da Frontex. E é a partir destes países que chega a Portugal.