GNR, PJ e PSP aumentaram o número de apreensões e de detenções de traficantes nos últimos meses. Toxicodependentes continuam sem dinheiro para consumir. Trocam drogas tradicionais por metadona.
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O tráfico de droga está a aumentar desde que foi decretado o fim do estado de emergência. Esta é a conclusão que se pode tirar da análise das detenções de traficantes e da quantidade de estupefaciente apreendido entre março e agosto deste ano. Apesar deste crescimento, os números apresentados pela GNR, Polícia Judiciária (PJ) e PSP relativamente ao primeiro semestre deste ano estão muito distantes dos alcançados em 2019.
Já quanto ao consumo, os técnicos alegam que ainda não há informação estatística que permita fazer um diagnóstico. Mas há quem acredite que só com a retoma da atividade económica é que os toxicodependentes voltarão a dispor de dinheiro para comprar cocaína, heroína ou haxixe em quantidades semelhantes às do período pré-pandemia.
"Com o fim do estado de emergência e a reabertura de fronteiras tem-se vindo a verificar um progressivo aumento do tráfico ilícito de estupefacientes, como aliás era previsível", refere, ao JN, fonte oficial da PJ.
Mais detenções
A mesma fonte explica que a diminuição do tráfico de grandes quantidades de droga entre 20 de março e 30 de abril justificou-se por três factores: a suspensão dos voos que ligam a América do Sul a Portugal, o encerramento da fronteira com Espanha e um maior controlo dos espaços públicos e circulação rodoviária em território nacional. A única exceção a este cenário, realça a PJ, foi a entrada de droga, sobretudo cocaína e haxixe, por barco à costa portuguesa. "O tráfico por via marítima não sofreu grandes condicionamentos com a pandemia, tudo indicando, até, que as organizações criminosas passaram a recorrer com maior frequência a este tipo de tráfico, designadamente através de contentores", revela.
Dados do sistema de informação criminal da PJ mostram que, nos meses em que os portugueses estiveram confinados, foram realizadas mais 105 apreensões de droga do que entre maio e agosto. Todavia, após o fim do estado de emergência já foram aprendidos mais 2900 quilos de droga em todo o país do que nos meses anteriores. E também foram feitas mais detenções: 187 após o período de confinamento para 117 durante o estado de emergência.
Menos do que em 2019
A Direção Nacional da PSP também não tem dúvidas: "As restrições impostas pelo estado de emergência, por forma a mitigar a propagação do vírus Sars-Cov-2, e, consequentemente, a doença associada, a covid-19, contribuíram de sobremaneira para um abrandamento geral no tráfico e consumo de estupefaciente", avança. Um cenário que se alterou quando o Governo autorizou o regresso às ruas. "Entre 1 de março e 20 de abril, foram efetuadas, aproximadamente, 500 apreensões, no total, sensivelmente, de 160 quilos de estupefaciente. Foram também detidos 226 cidadãos e identificados outros 90 no âmbito contraordenacional [relacionado] com o consumo", descreve a PSP que, logo de seguida, confirma que estes números são menores do que os registados nos meses seguintes.
Aliás, as apreensões relacionadas com o tráfico de droga duplicaram. "A quantidade apreendida das chamadas "drogas duras" (heroína e cocaína) foi, significativamente, menor entre março e abril deste ano. Este facto decorre das várias ações desenvolvidas no âmbito das competências da PSP, seja através do normal e diário serviço operacional, seja através de investigações a cargo da estrutura de Investigação Criminal", declara a PSP.
Já os dados fornecidos pela GNR permitem perceber que o número de detenções por tráfico de droga está a aumentar, de forma contínua e ininterrupta, desde março, quando 43 traficantes foram apanhados. Em agosto foram 72 os detidos. Tudo somado, no último meio ano, houve 377 detenções, quando no período homólogo de 2019 tinham sido 967.
Cartéis adaptam-se
Segundo a Europol, os cartéis estão a adaptar-se à situação atual, explorando, cada vez mais, canais de comunicação seguros e optando por modelos de transporte, rotas de tráfico e métodos de ocultação diferentes dos utilizados antes da pandemia.
Tráfico online
A darknet (Internet de acesso restrito), as redes sociais e aplicações de comunicação encriptada estão a ter, refere a Polícia europeia, um papel fulcral no fornecimento de drogas. O tráfico faz-se cada vez menos de forma presencial.
Operações
Azambuja. Polícias detidos a tentar tirar 375 quilos de cocaína de armazém
Dois agentes da PSP, colocados no Algarve, foram detidos quando, em agosto, se preparavam para auxiliar um traficante a retirar 375 quilos de cocaína de um armazém existente na zona industrial da Azambuja. A droga tinha chegado ao porto de Setúbal no dia anterior à operação da PJ em caixotes de bananas transportadas num cargueiro desde a América do Sul.
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Sines. 120 milhões de euros em droga
Na semana seguinte à detenção dos polícias, a PJ do Porto apreendeu, no porto de Sines, mais 400 quilos de cocaína dissimulados num contentor com polpa de morango, proveniente do Brasil. Nesta operação foram detidos seis homens (quatro espanhóis e dois portugueses) com idades entre 20 e 51 anos. A droga, com elevado grau de pureza (cerca de 90%) valeria nas ruas mais de 120 milhões de euros.
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Grande Porto. Operação da PSP ataca distribuição em bairros sociais
Em 9 de julho, durante uma operação da PSP que envolveu 400 agentes, foram efetuadas 64 buscas nos bairros do Viso, Pasteleira e Fonte da Moura, todos no Porto. Também foram realizadas buscas em Gaia (Vila d"Este), Matosinhos, Póvoa de Varzim, Gondomar, Valongo e Paredes. No final, 30 suspeitos foram detidos e quase 22 mil doses de droga foram apreendidas. Foram ainda confiscados 54 mil euros em notas, dois carros, bem como múltiplas armas de fogo e munições.
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Algarve. Haxixe a caminho de Espanha
No final de julho, a PJ do Sul conseguiu apreender quase sete toneladas de haxixe, colocadas em cinco viaturas e num armazém. Nove homens (espanhóis, albaneses, italianos e romenos) foram detidos, naquela que foi considerada a maior operação do género este ano, no país. A droga tinha sido descarregada na costa algarvia e iria ser transportada para Espanha, por uma rede que já estava a ser investigada pelas autoridades.