O Tribunal S. João Novo, no Porto, condenou recentemente a penas de prisão efetiva, entre os dois anos e meio e seis anos, quatro de cinco membros de um gangue que se faziam passar por inspetores das Polícia Judiciária (PJ), para sequestrar e roubar vítimas, cirurgicamente escolhidas.
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Além de armas e munições, usavam binóculos, miras telescópicas e recetores/bloqueadores de telemóveis para vigiar os alvos antes de os atacarem. Entre as vítimas está uma idosa, de 84 anos, que vivia sozinha. Foi surpreendida de noite, na cama, onde foi amarrada e agredida, até revelar onde escondia dinheiro e outros valores.
Os suspeitos, residentes entre Penafiel e o Porto, foram condenados por crimes de roubo e furto agravado, sequestro, posse e detenção de armas, usurpação de funções e ainda tráfico de droga de menor gravidade, num acórdão entretanto confirmado pelo Tribunal da RElação do Porto.
Namorada denuncia
O gangue entrou no radar da PJ em meados de 2020, fruto da denúncia da namorada de um dos criminosos, Pedro Farinha, que conhecera, em julho desse ano, num bar da Maia. Logo aqui, o homem, bem-falante, apresentara-se como "inspetor da PJ".
Beatriz apaixonou-se, mas foi sol de pouca dura. Um mês depois de relacionamento com Pedro, que, entretanto, lhe apresentara mais "dois colegas da PJ" (Dorindo Santos e Manuel Alves), Beatriz precisou da Polícia, porque, numa noite, ao regressar a casa, viu tudo revirado. O que ali tinha de valor tinha-se sumido. Beatriz ainda pensou em chamar a PSP, mas, como tinha "à mão" uma "brigada da PJ", composta pelo namorado e amigos, chamou-os a eles.
Solícitos, os suspeitos iniciaram a "investigação" e foram peremptórios: "Os larápios não deixaram indícios" que pudessem levar à sua identificação. Mas, dias depois, quando viu um dos falsos polícias roubar-lhe o carro, Beatriz percebeu quem lhe tinha assaltado a casa: o recente namorado e os amigos dele. Face à cruel constatação, chamou a verdadeira PJ. E esta, até a detenção de todos, não deixou os seus créditos por mãos alheias.
Octogenária amarrada
Na investigação, os inspetores descobriram dezenas de crimes de roubo, furto e sequestro, além do de usurpação de funções. Entre as maiores vítimas, estava uma anciã, que vivia sozinha e por quem os bandidos não tinham tido a mínima comiseração. Entraram-lhe em casa, foram acordá-la à cama, para que lhes dissesse onde guardava bens de valor. Pensando estar a viver um pesadelo, a senhora, de 84 anos, não alinhou às boas, pelo que os ladrões amarraram o franzino corpo da idosa e agrediram-na, só parando quando a pobre lhes deu o que queriam.
Outra das principais vítimas foi um casal de emigrantes que ficou sem um cofre com 50 mil euros e um automóvel avaliado noutro tanto. Ao todo, segundo as contas do processo, o gangue apoderou-se, entre dinheiro e bens, de mais de 150 mil euros.
Arguidos e penas de prisão
João Pedro Carneiro Farinha
Seis anos e meio
Dorindo Tiago Silva Santos
cinco anos e um mês
Amadeu Filipe Valente Pereira
Quatro anos e meio
Manuel Fernando da Silva Alves
Quatro anos e quatro meses.
Sónia Santos
Dois anos e dez meses.