“Foi uma discussão acalorada mas sem agressões ou incitamento ao ódio”. Foi esta a versão apresentada na sexta-feira no Tribunal de Braga por dois dos sete ucranianos que começaram a ser julgados por terem ameaçado, em março de 2022, Natalya Sverlova, uma comerciante russa na sua loja, em São Vicente.
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Perante o coletivo de juízes, o casal Yuriy P. e Yuliya B. garantiu que não houve nenhum gesto ou tentativa de agressão.
Conforme o JN noticiou, a acusação diz que, no dia 7 de março, às 13 horas, e para se vingarem da invasão russa de 24 de fevereiro, foram à loja, disseram-lhe que devia “voltar para a sua terra e deixar Portugal” e ameaçaram queimar o espaço. Depois, Yuruy publicou um vídeo gravado dentro do espaço na rede social Facebook, o que originou vários comentários de ódio de outros ucranianos.
Por isso, os sete estão pronunciados pelo crime de incitamento ao ódio e à violência.
Na audiência, os arguidos negaram ter ameaçado queimar o espaço, dizendo que um dos presentes apenas afirmou que a bandeira da União Soviética, que estava pendurada na parede, “merecia ser queimada”.
Já o Yuriy garantiu que pôs o vídeo na rede social para dar a conhecer a ação de “indignação” aos conterrâneos, mas sublinhou que retirou a publicação logo que se apercebeu dos insultos contra a dona da loja.
Os dois, defendidos pelos advogados Rui Marado Moreira e Miguel Brito, contaram que o grupo combinou ir à loja, “à saída da missa ortodoxa, celebrada numa igreja na Arcada, depois de terem comentado a situação dramática que os seus familiares e compatriotas viviam, os horrores perpetrados e a especulação sobre uma tomada rápida do poder pelo exército russo”.
Acrescentaram que o espaço é conhecido por divulgar propaganda do regime de Putin e que, apenas queriam “comprar a simbólica ucraniana à venda ao lado da soviética ou imperialista russa e para pedirem à dona para que pelo menos retirasse a bandeira da Ucrânia que se encontra na parede, ladeada pelas da Federação Russa, da União Soviética e da Bielorrússia”.
Asseguraram que “não faziam a menor ideia de que a dona estaria a atender, porquanto nem sempre está na loja”. Entraram ordeiramente, acrescentaram, e pediram para comprar bandeiras e pins. Mas Natalya Sverlova recusou-se a vender e a retirar a bandeira. A partir daí gerou-se um diálogo com bastante emoção e argumentos inflamados mas, sempre, dentro de parâmetros de civilidade”.
MP não levou em conta vídeos da situação
No final, em declarações ao JN, o advogado Rui Marado Moreira disse que a transcrição da gravação dos vídeos e do som dos telemóveis demonstra que não houve agressões, insultos graves e intimidação, mas só uma troca acesa de palavras: “A certa altura, entram dois clientes na loja e são atendidos normalmente”, acentua, frisando que alguns ucranianos nem chegaram a entrar.
O jurista lamenta “que o Ministério Público e o Tribunal de Instrução não tenha levado em conta as gravações, onde, por exemplo, se vê a cidadã russa – radicada em Braga há vários anos - a telefonar a alguém dizendo que "uns provocadores" a queriam "obrigar" a tirar a bandeira. Ao que, uma das arguidas, Nina P. respondeu: "Não estamos a obrigar, estamos a pedir". E conclui o jurista: “Tudo decorreu com um civismo exemplar e a comerciante não foi ameaçada”.