Ex-major Sérgio de Carvalho lidera, a partir do Dubai, um dos maiores carteis mundiais de cocaína. Há três meses, escapou por pouco à PJ, que lhe apreendeu 11,7 milhões de euros em dinheiro. No Brasil, a polícia arrestou-lhe 37 aviões.
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Sérgio de Carvalho, um dos maiores traficantes de cocaína do mundo, esteve a morar em Lisboa, durante quase dois anos. Com mandados de captura internacionais sobre si, este ex-major da Polícia Militar brasileira, de 62 anos, conseguiu passar despercebido na capital portuguesa, fazendo uso de três identidades falsas e dois apartamentos, entre 2019 e 2020. Em novembro, quando a Polícia Federal brasileira e várias polícias europeias avançaram com uma grande operação de buscas e detenções, Sérgio de Carvalho escapou por pouco à nossa Judiciária. Agora, instalou-se no Dubai, tirando partido da falta de cooperação judiciária deste emirado com outros países.
Sérgio Roberto de Carvalho, que traz à memória o célebre narcotraficante colombiano Pablo Escobar, pela dimensão das operações da sua organização, anda há vários anos fugido do Brasil, onde foram abertas inúmeras investigações sobre si e até já foi condenado. E, depois de Espanha, a capital portuguesa foi justamente um dos seus últimos refúgios.
Segundo apurou o JN, o antigo major passou cerca de dois anos entre dois apartamentos novos, que valeriam cerca de 2,5 milhões de euros. Um na Avenida da Liberdade e outro junto da Avenida da República.
500 milhões por ano
Foi a partir dali que, no referido período, dirigiu as operações de uma rede a que tem sido atribuído o transporte marítimo e aéreo de muitas toneladas de cocaína do continente americano para o europeu (mais de 45 toneladas, desde 2017) e que, segundo as estimativas feitas por polícias que seguem o seu rasto, tem tido lucros à volta de 500 milhões de euros por ano.
Num processo que tinha sido aberto em 2017, a Polícia Federal veio a preparar uma operação, no final do ano passado, que incluiu mais de 200 mandados de busca em dez estados brasileiros, mas também em Portugal, Espanha, Colômbia e Emirados Árabes Unidos. Em Portugal, a PJ apreendeu, numa operação chamada "Camaleão", 11,7 milhões de euros em numerário, que estavam escondidos numa carrinha, estacionada em Lisboa. No Brasil, foram apreendidos 200 quilogramas de cocaína e 37 aviões, que eram usados para o transporte da droga.
A rede do major Carvalho sofreu um grande rombo no Brasil, tanto mais que, em paralelo, foram detidos 29 dos seus elementos, alguns deles com posições de relevo na sua hierarquia. mas o peixe mais graúdo de todos, Sérgio Roberto de Carvalho, escapou-se. Pouco antes da operação, tinha viajado para a Ucrânia e, não obstante os esforços da Polícia Judiciária, inclusivamente junto dos serviços de informações, as autoridades daquele país do Leste europeu não lhe deitaram a mão.
Depois da Ucrânia, Sérgio de Carvalho terá dado o salto para o Dubai, onde, segundo as informações recolhidas pelo JN, já montou uma estrutura para continuar a trabalhar.
"Major Carvalho" simulou a própria morte
"Major Carvalho", como era conhecido no Brasil, chegou a cumprir ali pena por tráfico de cocaína. Depois, foi morar para Espanha e assumiu a identidade falsa de Paul Wouter, um empresário nascido na Guiana e com passaporte do Suriname. Os negócios cresceram e, como noticiaram alguns jornais brasileiros, Sérgio de Carvalho, ou Paul Wouter, "virou o rei da droga". Numa investigação das autoridades espanholas, acabou por ser traído pelas impressões digitais e a justiça espanhola queria condená-lo. Mas, segundo noticiou o jornal "La Voz de Galicia", o inquérito sobre Paul Wouter foi encerrado pelas autoridades locais devido a notícia da sua morte, dada pelo seu advogado, dois dias depois de se tornar público o pedido de prisão de 13 anos e seis meses contra ele. A defesa apontou como causa de morte a covid-19 e que o corpo fora cremado. Na altura, porém, o "Major" já estaria a morar em Portugal.