Suspeitas de evasão fiscal em contratos de jogadores, comissões e utilização de direitos de imagem motivaram buscas no F. C. Porto, Sporting e Benfica.
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São duas dezenas de contratos entre jogadores e os clubes F. C. Porto, Sporting e Benfica, desde 2014 até ao ano passado, que levaram ontem o Fisco a realizar 67 buscas nos respetivos estádios, assim como em residências de atletas, agentes desportivos, escritórios de contabilidade e de advogados. Em causa estão suspeitas de fraude fiscal qualificada, fraude contra a Segurança Social e branqueamento de capitais, que terão permitido aos clubes e jogadores "pouparem" 58 milhões de euros em impostos.
O Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) suspeita mesmo que os clubes celebraram contratos desportivos que não passarão de simulações de negócios apenas destinados a reduzir os montantes de IVA, IRC e os descontos para a Segurança Social a pagar.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, no Benfica estão sob suspeita os contratos de Chiquinho, Odysseas Vlachodimos ou Gonçalo Guedes. Estes três atletas encarnados foram alvo de buscas domiciliárias, ontem de manhã.
Portimonense
Já no clube nortenho, na mira estão relações comerciais entre o F. C. Porto e o Portimonense, tanto na compra como em empréstimos de jogadores. A casa do agente e filho do presidente portista, Alexandre Pinto da Costa, foi alvo de buscas para recolha de documentos.
No Sporting estão em causa os negócios de Bas Dost, Naldo, André Pinto, Rúben Semedo, Battaglia, Beto Pimparel e Schelotto que levaram os inspetores a recolher documentos contabilísticos nos clubes e em residências dos suspeitos.
"Nos inquéritos investigam-se suspeitas de prática de crimes de fraude fiscal qualificada, fraude contra a segurança social e branqueamento de capitais, ligadas com celebração ou renovação de contratos de trabalho desportivo, pagamento de comissões e circuitos financeiros que envolvem os intermediários nesses negócios, bem como utilização de direitos de imagem", adiantou ontem o DCIAP. O procurador da República Miguel Rodrigues investiga factos ocorridos de 2014 a 2022, "com forte dimensão internacional".
Clubes contestam
Já do lado dos clubes, contesta-se a visão das autoridades. Fontes ouvidas pelo JN explicaram que as SAD assumem e pagam os custos de intermediação com empresários que deveriam, segundo o Fisco, ser da responsabilidade dos atletas. A Autoridade Tributária considera que os clubes deduzem assim indevidamente verbas e que os jogadores pagaram menos IRS e Segurança Social do que o devido.
Neste processo, muito semelhante à "Operação Fora de Jogo", a investigação versa, essencialmente, sobre anteriores gestores do Benfica e Sporting, Luís Filipe Vieira e Bruno de Carvalho. No caso do F. C. Porto, é Pinto da Costa.
Reações
Clubes garantem colaboração com autoridades
O Sporting confirmou que a SAD do clube "foi constituída arguida no mesmo processo, que incide sobre contratos e transferências de jogadores de futebol, ocorridos no período compreendido entre 2015 e 2017", sublinhando que a mesma está "convicta" de que o processo "não terá impactos relevantes", pois "a sua atividade e, em particular, as transferências e contratos de jogadores, é auditada pelas entidades competentes, no estrito cumprimento da lei". Também a Futebol Clube do Porto - Futebol, SAD confirmou que, "na sequência de diligências anteriores, e a exemplo do que está a ocorrer em outras sociedades desportivas" a realização das buscas, garantindo que "encontra-se a colaborar com a justiça e a disponibilizar todos os elementos que lhe sejam solicitados." A SAD do Benfica também manifestou a sua "total disponibilidade para colaborar com as entidades competentes", recusando fazer mais comentários por "respeito pelo segredo de justiça existente no âmbito da investigação".