Edifício foi remodelado para habitação de luxo e comprado por testas de ferro por 12 mil euros. Está agora à venda por 600 mil.
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Uma mansão com piscina e campo de ténis, atualmente à venda por 600 mil euros, mas que, há apenas um ano, foi vendida e escriturada como se fosse um simples palheiro de 12 mil, está na mira da Polícia Judiciária, na operação "Prazo Final", que levou à detenção do antigo dono da segunda maior fábrica de mobiliário do país, Manuel Luís Martins, e seis cúmplices. São suspeitos de fraude na obtenção de 3,1 milhões de fundos europeus e de terem dolosamente levado à falência a Wood One, de Paredes, com dívidas de 10 milhões.
As autoridades reuniram fortes indícios de que grande parte do dinheiro foi branqueado pelo empresário numa operação imobiliária na localidade de Reimonda, Paços de Ferreira, onde há alguns anos adquiriu um terreno com um palheiro de valor residual.
A investigação acredita que pelo menos uma parte dos fundos do Portugal 2020 que a Wood One recebeu terá sido usada em obras do imóvel. Outra parte do dinheiro que deveria ser destinado a comprar maquinaria nova foi, afinal, utilizada na aquisição de ferramentas usadas.
Com a remodelação, o palheiro foi então transformado numa moradia de luxo. Há cerca de um ano, foi vendida a uma empresa, detida por um casal, suspeito de ser testa de ferro do empresário. Apesar de ter piscina, campo de ténis e churrasqueira, a habitação foi escriturada por 12 mil euros e, oficialmente, continuava a ser um palheiro. Recentemente, a mansão foi posta à venda por 600 mil euros e, por isso, a equipa mista de investigação, constituída pela PJ e Direção de Finanças do Porto da Autoridade Tributária, suspeita de esquema de branqueamento.
A sociedade do casal detido na operação, também é proprietária da casa onde tem vivido Manuel Luís Martins, o que reforça a desconfiança das autoridades.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, a mulher, funcionária pública, chegou a trabalhar na Câmara de Paredes e, em regime de mobilidade, na repartição de Finanças de Paços de Ferreira - o mesmo concelho onde se situa a mansão "palheiro" que foi avaliada em 12 mil euros para efeitos fiscais.
Rolls-Royce dos móveis
Manuel Luís Martins era o dono da Wood One, inaugurada em 2015 com pompa e circunstância por ser a segunda maior fábrica do país e a única energeticamente autossustentável. A fábrica chegou a ser denominada de "Rolls-Royce do mobiliário", tal a sofisticação anunciada. Várias figuras públicas - Paulo Portas, então vice-primeiro-ministro, e o ex-futebolista Vítor Baía - marcaram presença na inauguração.
Grande parte do investimento chegou em 2016, de subsídios comunitários, através do programa Portugal 2020. Manuel Luís Martins recebeu 3,1 milhões de euros a fundo perdido, mas no ano seguinte apresentou-se à insolvência.
Na quinta-feira, os sete detidos foram levados ao Tribunal de Marco de Canaveses para o primeiro interrogatório judicial.