Polícia Judiciária de Setúbal investiga quatro guardas de Vila Nova de Milfontes por crimes de abuso de poder.
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Quatro militares do posto da GNR de Vila Nova de Milfontes, do Destacamento Territorial de Odemira, foram constituídos arguidos pela Polícia Judiciária (PJ) de Setúbal pela prática de atos de abuso de poder e humilhação sobre cidadãos indianos sob custódia da autoridade policial.
Dois dos quatro suspeitos tinham sido condenados em julho passado por integrarem um grupo de cinco militares julgados por sequestro e agressões a imigrantes indianos. Foram condenados a penas entre três anos e meio e quatro anos de prisão e ficaram ainda suspensos de funções na GNR por um período de dois anos.
A 8 de maio de 2019, aquando da detenção destes cinco militares pelos atos perpetrados contra os imigrantes, a PJ apreendeu e analisou os telemóveis dos arguidos, tendo detetado fotografias e vídeos onde se via que outros cidadãos asiáticos foram obrigados a fazer flexões, a dar "saltos de canguru" e a rastejar, tanto no exterior como no interior do posto da GNR.
Depois de analisar as imagens, os inspetores remeteram o caso para o Ministério Público de Odemira, que extraiu uma certidão e ordenou a investigação num processo autónomo.
A PJ de Setúbal notificou os dois militares, de 24 e 27 anos, proprietários dos telemóveis, para comparecerem em interrogatório, tendo constituído os mesmos arguidos.
suspeitos por identificar
A assistir aos atos de humilhação sobre os imigrantes indianos estavam outros cinco militares do posto, mas só dois deles foram identificados, tendo também sido constituídos arguidos, no âmbito da investigação da PJ.
Os outros três militares que apareciam nas fotos e nas filmagens estavam de costas, não sendo possível a identificação direta. Não tendo sido identificados por qualquer dos demais arguidos, estão, para já, fora das investigações da Judiciária.
Segundo apurou o JN, o processo continua a ser investigado pela PJ. Os guardas podem vir a ser acusados de crimes de abuso de poder, ofensas corporais e sequestro, arriscando penas de prisão superior a cinco anos.
PORMENORES
Jantar com 25 indianos
O caso que deu origem à condenação dos militares aconteceu num jantar no fim de setembro de 2018, num restaurante de Almograve, que juntou 25 trabalhadores agrícolas indianos, "patrocinado" por um indivíduo conotado com tráfico de seres humanos para exploração laboral.
Até seis anos de prisão
A 3 de julho, no Tribunal de Beja, os juízes aplicaram penas de entre três anos e seis meses e seis anos de prisão aos cinco militares da GNR por sequestro e agressões.