A mãe de Jéssica, a menina de três anos que morreu em Setúbal vítima de homicídio, devia 400 euros aos suspeitos do crime. Terá sido para forçar a mulher a pagar esta dívida que os três detidos - a mulher que lhe emprestou o dinheiro, a filha e o genro - raptaram a criança e a espancaram, deixando-a moribunda.
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A menina acabou por não resistir aos ferimentos e falecer em casa em Setúbal, na segunda-feira, para onde foi levada pela mãe depois de seis dias em cativeiro na casa dos suspeitos.
As dívidas de Inês, a mãe da criança, aos suspeitos já lhe tinham causado antes problemas. Há uns meses, o seu companheiro, Paulo Amâncio, conforme o próprio disse ao JN, já tinha saldado outra dívida. Avisou mesmo Inês de que não permitiria que ela voltasse a relacionar-se com esta família e a pedir-lhes dinheiro, ameaçando deixá-la se o fizesse.
Mas Inês voltou a contrair nova dívida e nada disse ao companheiro. Quis saldar o empréstimo sozinha e, na terça-feira da semana passada, dia 14, entregou a menina à família. Segundo João Bugia, coordenador da Polícia Judiciária (PJ) de Setúbal, foi levada a entregá-la. "A mulher agora detida convenceu a mãe a levar a criança a sua casa com o pretexto de que a menina poderia ficar a brincar com a neta, da mesma idade", explicou à Lusa. Mas já não a pôde levar para casa. Foi-lhe dado um prazo até ao dia 7 de julho para arranjar o dinheiro e só então lhe devolveriam Jessica.
Inês terá escondido todo este enredo e disse ao companheiro e à sua família que a menina ia frequentar uma colónia de férias até à data do ultimato. Esta segunda-feira de manhã decidiu ir buscar Jéssica e encontrou-a moribunda. Levou-a para casa e contou ao companheiro que a menina tinha caído na colónia de férias e que estava sonolenta porque o psicólogo da colónia lhe receitou Atarax, um calmante. Não a quis levar para o hospital porque, alegou, teve medo que os ratores descobrissem o seu paradeiro. A caminho de casa, passou pelas instalações da PJ de Setúbal e pela GNR, sem ter solicitado auxílio.
A mentira foi desvendada mais tarde, quando Jéssica morreu e Inês contou aos inspetores da PJ de Setúbal onde a menina estivera, não numa colónia de férias, mas numa casa sem condições e submetida a agressões constantes.
Esta quarta-feira, a PJ deteve a agiota, de 52 anos, o seu companheiro, de 58, e a filha dela, de 27.. Estão indiciados por homicídio qualificado, ofensas corporais agravadas, rapto e extorsão. A mãe foi interrogada, tal como o seu companheiro, mas não chegaram a ser constituídos arguidos.
A PJ investigou também indícios que apontravam para a eventual existência de agressões sexuais à criança, tal como o JN noticiou, mas que, até ao momento, não se confirmaram, dado que a autópsia não revelou evidências físicas dos mesmos.
Funeral de Jéssica realiza-se na sexta-feira
As cerimónias fúnebres de Jéssica Biscaia realizam-se a partir desta tarde de quinta-feira. O velório será a partir das 17.30 horas na capela da Igreja da Anunciada, junto à Avenida Luísa Todi. O funeral será esta sexta-feira, a partir das 10 horas, no cemitério de Algeruz.
De acordo com fonte próxima da família, foi pedido a quem comparecer nas cerimónias fúnebres que leve uma peça de roupa branca. Está ainda previsto o lançamento de balões.