Deputadas e ativistas poderão ter segurança garantida por agentes da PSP. Judiciária anda a recolher provas, incluindo na Internet e redes sociais.
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As ameaças que um grupo de extrema-direita dirigiu a três deputadas e a sete ativistas sociais estão a ser levadas a sério, a ponto de as autoridades ponderarem avançar com medidas de proteção para aquelas 10 pessoas. Assim que recebeu as queixas, a PJ também começou imediatamente a recolher provas, numa investigação que pode visar crimes, nomeadamente, de coação contra órgãos constitucionais, puníveis com prisão até cinco anos.
"Confirma-se a instauração de inquérito, no âmbito do qual serão investigados todos os factos que vieram a público nos últimos dias", informou esta quinta-feira a Procuradoria-Geral da República. Sábado à noite, uma parada ao estilo do Ku Klux Kan, com máscaras e tochas, surpreendeu quem vive junto à sede da SOS Racismo. Já na terça-feira, um grupo denominado Nova Ordem de Avis - Resistência Nacional dirigiu um email aos 10 deputados e ativistas referidos onde lhes deu 48 horas para "abandonar o território nacional" e para "rescindir" das suas "funções políticas", sob pena de serem tomadas "medidas".
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Vários dos ativistas ameaçados - Mamadou Ba, do SOS Racismo; Danilo Moreira, do Sindicato dos trabalhadores dos "call centers" e da Frente Unitária Antifascista (FUA); Luís Lisboa, do Núcleo Antifascista de Guimarães; Jonathan Costa, da FUA; Melissa Rodrigues, do Núcleo Antirracista do Porto; Rita Osório, ativista LGBT; e Vasco Santos, do Movimento Alternativa Socialista - pediram proteção policial.
Por outro lado, apurou ainda o JN, esta quinta-feira estariam a ser acauteladas medidas semelhantes para as deputadas Joacine Katar Moreira (independente), Beatriz Gomes Dias e Mariana Mortágua (Bloco de Esquerda). As medidas de proteção passarão por mobilizar agentes da PSP para acompanhar os visados. Na cúpula do BE, esta quinta-feira, houve ordem para ninguém falar da situação.
Alertas do RASI
A investigação é da competência da Unidade Nacional Contraterrorismo, da PJ. Mas também terá importante componente informática, devendo contar com peritos da área.
A Internet tem sido, aliás, o principal espaço de intervenção dos grupos de extrema-direita. A constatação é feita no Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) de 2019, onde se lhes aponta "multiplicação e desdobramento de atividades, designadamente na vertente online - e.g. nas redes sociais, dimensão em que estão particularmente ativos".
No mesmo relatório, observa-se que a extrema-direita portuguesa "tem vindo a reorganizar-se, reciclando o discurso, formando novas organizações e recrutando elementos junto de determinadas franjas da sociedade a que normalmente não acedia".
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Visados apreensivos pedem que o Estado assuma responsabilidades
Vasco Santos, de Barcelos, que foi cabeça de lista do Movimento Alternativa Socialista (MAS) ao Parlamento Europeu e integra o Sindicato da Função Pública do Norte, bem como Jonathan Ferreira da Costa, rosto da Frente Unitária Antifascista, fundada há quase dois anos em Braga, confirmam ao JN ainda não terem sido contactados pela PSP, para segurança pessoal. E dizem estar "apreensivos" com "este tipo de ameaças sem precedentes".
"Pela primeira vez, são até contra as nossas famílias", afirmam, reclamando que "o Estado assuma as suas responsabilidades". Ambos recordam que há anos vêm "chamando a atenção para o crescendo de intolerância e de fascismo na nossa sociedade". "Infelizmente, o tempo veio dar-nos razão e por isso as instituições do Estado têm que dar um passo decisivo contra esses criminosos e neonazis", sublinham, criticando a "relativização que é dada por [André] Ventura a estes movimentos e a estas movimentações". Também criticam Rui Rio, líder do PSD, por admitir uma aliança com o Chega, "se ele se "moderar" e portar bem".