Um motorista de pesados de Celorico de Basto, com 47 anos, está preso na Grécia, desde 10 de janeiro, por ter sido apanhado pelas autoridades locais com quatro imigrantes ilegais no interior do camião que conduzia, quando se preparava para entrar num "ferryboat" com destino a Itália. A família, que já recebeu um telefonema do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, está desesperada e garante que Luís Marques, o motorista, é "inocente".
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O profissional de Celorico de Basto decidiu aceitar a proposta do patrão de transportar uma carga de garrafas de gás para a Grécia e saiu de Portugal, a 3 de janeiro, em direção àquele país, onde chegaria no dia 6, depois de uma viagem de "ferry" a partir de Itália. Apesar das dificuldades com a língua, encontrou o cliente para fazer a descarga e, em Atenas, voltou a fazer uma nova carga, desta vez de peúgas, por indicação da sua empresa.
Explicações sem tradução para grego
Segundo Lúcia Moura, mulher de Luís Marques, o pesadelo começaria na sexta-feira, dia 8 de janeiro, um dia depois de o marido chegar ao Porto de Patras, para apanhar um barco e seguir para o Sul de Itália, onde teria de descarregar a mercadoria, antes de voltar a casa. "Tinha um bilhete para sexta-feira, mas a passagem ficou adiada para domingo. O meu marido estava cheio de medo de estar lá e queria tanto sair que, no sábado, foi perguntar se havia passagens para Brindisi (Itália), mas não tinha plafond no cartão e não consegui transferir mais. Tive que lhe dizer para aguentar mais uma noite", conta Lúcia Moura, de voz embargada, explicando que o marido passou a noite de sexta-feira sobressaltado.
"Ele disse-me que, às três da manhã, ouviu um barulho, saiu do camião e viu um cabo do reboque rebentado e três pessoas a fugir. Nunca se apercebeu que estavam indivíduos lá dentro, porque a carga que levava, também, era larga e alta", atesta Lúcia Moura, explicando que os imigrantes ilegais, três do Afeganistão e um do Irão, foram descobertos pelas autoridades no domingo de tarde, dia 10, quando o camião já estava na fila para o "ferry". "O meu marido tentou explicar o que se tinha passado de noite, mas ninguém o quis ouvir. Não havia um tradutor", lamenta a mulher.
Justiça grega atrasa-se a decidir recurso
Luís Marques foi detido e, segundo a mulher, está acusado de tráfico humano. Encontra-se em prisão preventiva em Amfissa e, desde então, a família apenas consegue contactar com ele uma vez por semana. A embaixada portuguesa em Atenas tem estado em diálogo com a família, e a empresa do marido assegurou os advogados. Mas Lúcia Moura pede mais empenho no caso por parte do Governo português.
"Os juízes [gregos] tinham 30 dias para responder ao recurso [sobre a prisão preventiva] e esse prazo já terminou a 21 de fevereiro. Só me vão ligar quando o meu marido cometer uma loucura. O efeito da medicação para dormir já nem faz efeito. Ele já só consegue chorar, quando vê os filhos pelo Skype. E tenho os meus filhos a acordar aos berros, de noite", queixa-se a mulher, mãe de cinco filhos, dois deles menores.
Segundo Lúcia Moura, os juízes terão acolhido o argumento dos imigrantes ilegais, de que terão pago a Luís Marques para seguirem no camião. "Condenaram o meu marido e foram soltos", protesta, garantindo que "não há provas nenhumas" contra Luís Marques.
Depois de este caso ter sido falado num programa de televisão, o presidente da República contactou a família, segundo conta Lúcia Moura, "para manifestar solidariedade".
Contactado pelo JN, esta quinta-feira, o Ministério dos Negócios Estrangeiros garantiu que os serviços consulares "mantiveram contacto com Luís Marques desde o primeiro momento" e tem acompanhado o caso "junto das autoridades gregas, certificando-se de que eram garantidas condições condignas" desde que o motorista foi privado de liberdade.
"Tratando-se de matéria criminal, a Embaixada de Portugal em Atenas aguarda pelo desenvolvimento e conclusão do respetivo processo judicial por parte das autoridades gregas", acrescenta fonte oficial do ministério, sublinhando que tem estado em contacto com os advogados de defesa de Luís Marques.