Associação Solim - Solidariedade Imigrante denuncia "autênticos negreiros" de mão de obra para estufas e campos do distrito de Beja.
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Milhares de imigrantes chegam ao Alentejo, trazidos pelos contratadores de mão de obra temporária, com vistos turísticos e depois ficam de forma ilegal na região. Sem imigrantes ilegais, não há colheitas rentáveis", denuncia, ao JN, Alberto Matos, diretor nacional da Associação Solim - Solidariedade Imigrante, acrescentando que existem "autênticos negreiros" de cedência de mão de obra.
No ano passado, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) registou mais de 14 mil residentes estrangeiros (quase mais dois mil do que em 2019) no distrito de Beja, maioritariamente homens, com destaque para indianos e para nepaleses. Mas o verdadeiro número de imigrantes poderá chegar aos 20 mil. A apanha dos frutos vermelhos nas estufas na zona litoral de Odemira e os olivais e amendoais em Beja e em Ferreira do Alentejo absorvem a maioria da mão de obra.
Seja qual for o concelho, o cenário é idêntico. Contratos por empresas de trabalho temporário, baixos salários, condições de transporte, habitação e alimentação degradantes. As habitações estão sobrelotadas. Um dos casos, denunciados ao JN, dá conta de 50 pessoas que residiam num prédio degradado no Centro Histórico de Beja. Cada um pagava 80 euros por mês, o que totaliza um valor global de renda mensal de quatro mil euros.
No Tribunal do Trabalho de Beja, começam a surgir ações de trabalhadores estrangeiros que recorrem à Justiça para cobrar os salários não pagos. "Trabalhamos e depois não pagam a totalidade dos meses. Precisamos do dinheiro para viver e enviar para as famílias", lamenta Prabha Dura, cidadão indiano.
Alberto Matos, da Solim, deixa um alerta: "O tráfico humano dá mais dinheiro do que a droga e as armas". Só é ultrapassado quando houver leis que definam "as responsabilidades sociais e sanitárias das empresas ou empregadores individuais. É vital que exista uma responsabilidade solidária direta ou partilhada".