Não chegou vestido de Pai Natal, nem distribuiu prendas provenientes de um qualquer saco azul. Mas Ricardo Araújo Pereira espalhou piadas cáusticas contras crimes de colarinho branco, na conferência sobre os riscos de corrupção na contratação pública, organizada esta quinta-feira, pela Polícia Judiciária.
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"A luta contra a corrupção é como no wrestling. Parece um combate mas no fim, ninguém se aleija", começou por dizer o humorista que apontou baterias a uma decisão judicial, envolvendo o empresário nortenho Domingos Névoa.
Acusado de corrupção, o empresário foi absolvido porque os tribunais entenderam que apesar de ter oferecido 200 mil euros a um político para obter um favor os juízes consideraram que o vereador em causa não tinha o poder de fazer o tal favor.
"Não é um badameco qualquer que consegue ser corrupto. Para o tribunal quem tenta subornar a pessoa errada não é um corrupto, é apenas um palerma", disse Ricardo Araújo Pereira que continuou a argumentação.
"Isto quer dizer que quem rouba o banco errado, não é um ladrão, é apenas um homem distraído. Mas por outro lado, só não é ladrão se for administrador do banco", atirou o humorista que concluiu sobre Domingos Névoa: "o que cometeu foi uma ilegalidade ilegal, mas que curiosamente é legal. Para subornar é preciso seguir rigorosos trâmites legais".
O humorista também se atirou à limitação de mandatos dos autarcas dizendo que, afinal, não há limitação nenhuma. "Um autarca pode ser presidente da câmara durante 3966 anos. Basta saltar de uma câmara para a outra, percorrendo todas as autarquias do país. Aliás, nem precisa de as fazer todas, pode saltar de 12 em 12 anos de uma para outra", finalizou Ricardo Araújo Pereira, que disse estar na idade de poder cometer um crime, dada a morosidade das condenações. Por estar a perfazer 50 anos, dentro de dois anos, o humorista conta ser condenado apenas quando tiver 75 anos, graças a recursos e incidentes processuais, normalmente usados por arguidos.
A conferência sobre os riscos de corrupção na contratação pública também contou com a participação da ministra da Justiça, Catarina Sarmento e Castro, da procuradora-geral da República, Lucília Gago, e do diretor nacional da Polícia Judiciária, Luís Neves, além de especialistas em contratação pública e corrupção.
No seu discurso, Luís Neves realçou o facto de a PJ ter 33% dos seus quadros afetos à luta de crimes de colarinho branco e sublinhou a importância de fixar os inspetores especializados em determinadas áreas para poder ter equipas coesas e duradouras. "Temos que ter pessoas cada vez mais bem preparadas e formadas para os desafios", disse o diretor nacional da PJ.
Também a procuradora-geral da República afirmou que a luta contra a corrupção na contratação pública passa pela especialização e formação. "Deve constituir uma aposta", disse Lucília Gago.
Já Catarina Sarmento e Castro admitiu que o combate à corrupção é um dos grandes desafios que se coloca ao Estado. "A área da contratação pública é permeável à corrupção e isso tem efeitos devastadores no interesse público", reiterou a ministra da Justiça, que enumerou as medidas estabelecidas pelo Governo na luta contra a corrupção.