Ocupantes de carro e moto percorreram bairro a disparar para o ar. Autoridades alertaram para hipótese de vingança.
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Temia-se uma escalada de violência entre o grupo a que pertencia Igor Silva, o jovem de 26 anos, natural do Bairro de Ramalde, morto à facada na festa do título do F. C. Porto, e o grupo do suspeito do homicídio, Renato Gonçalves, filho do conhecido adepto portista Marco "Orelhas". E, ontem, dois indivíduos percorreram, aos tiros para o ar, parte do Bairro do Cerco, no qual o elemento da claque Super Dragões nasceu, foi criado, mas onde não vive há mais de dez anos. No local reside apenas a mãe.
A prova reunida não permite, para já, ligar os dois episódios violentos, mas as autoridades investigam a hipótese de os disparos terem sido efetuados para vingar a morte de Igor.
A retaliação do grupo de Ramalde poderá ter começado ainda na madrugada de ontem, quando se ouviram os primeiros tiros no Bairro do Cerco. Os disparados para o ar, que não provocaram feridos, foram realizados por dois homens numa moto.
Na tarde seguinte, pelas 16 horas, o silêncio do bairro voltou a ser quebrado por novos disparos. Desta vez, os tiros saíram do interior de um carro, que entrou e saiu rapidamente do bairro. Dois homens seguiam na viatura e as autoridades estão a tentar apurar a sua identidade, com base em relatos de alguns dos moradores.
Na sequência destes disparos, uma pessoa ficou ferida. Mas, segundo os Bombeiros de Valbom, recusou ser transportada ao hospital, após ter sido assistida no local pelo INEM.
Juiz temia retaliação
Os disparos criaram um clima de grande tensão no Bairro do Cerco e vários residentes não tinham dúvidas em justificá-los com o desejo de vingança do grupo ligado a Igor Silva.
O receio de retaliação pelo homicídio ocorrido na Alameda do Dragão já tinha sido manifestado pelo juiz que colocou Renato em preventiva. Aliás, esse foi um dos fundamentos para mandar o filho de Marco "Orelhas" para a cadeia.
O alarme social que se criou à volta do caso e também a vontade de proteger o próprio arguido de eventuais crimes levaram o juiz de instrução a colocá-lo em prisão preventiva, no estabelecimento prisional anexo à Polícia Judiciária, onde está mais resguardados de outros reclusos.
O próprio homicida confesso de Igor Silva refugiou-se, logo na madrugada do crime, em casa de um familiar. Tinha medo de regressar à sua própria habitação, situada na zona da Corujeira.
Autópsia revela que Igor Silva sofreu 16 golpes na festa do título
A autópsia ao corpo de Igor Silva, o homem de 26 anos que foi morto à facada nas imediações do Estádio do Dragão, durante a festa do título, revelou que a vítima sofreu 16 golpes de faca. Pelo menos seis ferimentos foram registados em zonas vitais.
Renato Silva, o jovem detido pela Polícia Judiciária por suspeitas do homicídio garantiu ao juiz de instrução que o colocou em prisão preventiva ter, apenas, dado uma facada no Igor, na zona das costas. Alegou que a faca era da própria vítima e ter agido no meio da confusão das agressões por ter julgado que Igor tinha acabado de esfaquear o pai. Garantiu ainda desconhecer quem terá dado as outras 15 facadas por ter fugido de imediato do local.
Mas, para o Ministério Público do Porto, foi Renato quem, repetidamente, esfaqueou Igor Silva. E fê-lo por vingança, com uma faca de grandes dimensões, quando a vítima já estaria no chão.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, o clima de tensão entre Igor, Renato e o pai deste, o conhecido adepto do F.C. Porto Marco Gonçalves "Orelhas", já dura há pelo menos cinco meses.
Na origem da escalada de violência está um desentendimento entre o grupo de amigos da vítima e o de Renato, que teve lugar na noite de passagem de ano, numa discoteca na zona da Lapa, no Porto. Algumas fontes contactadas pelo JN relataram motivos fúteis, sem relação com negócios ou interesses.
Na semana passada, os dois cruzaram-se no recinto do Queimódromo, onde tiraram satisfações e deram-se mais agressões. Ali, Igor terá sovado a irmã de Renato e, na sequência desta contenda, familiares do detido, incluindo o pai Marco, ter-se-ão deslocado ao Bairro de Ramalde, o refúgio de Igor, para acertar contas. Gerou-se uma nova e violenta discussão, que aumentou o clima de tensão entre os dois grupos.
Já no dia do clássico, durante a partida entre Benfica e F.C. Porto, no Estádio da Luz, em Lisboa, Marco "Orelhas" e Igor envolveram-se em agressões mútuas. Amigos de ambos sanaram o problema.
Mais tarde, já no Porto, junto ao Dragão, Marco, Renato e um terceiro indivíduo cruzaram-se com Igor durante os festejos. Geraram-se novas agressões, mas a vítima, com ajuda de amigos que separaram os intervenientes, conseguiu afastar-se dos confrontos.
De acordo com a investigação, Renato foi atrás dele e deu-lhe 16 facadas, seis delas mortais.